sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Monsenhor Lucas, aniversário sacerdotal. 55 anos

 



Monsenhor Lucas Batista Neto foi agraciado com muitos carismas e virtudes. Encanta-nos o seu jeito de ser: espontâneo, criativo, disponível, manso, simples e fraterno. Tem a serenidade dos místicos, a ousadia dos jovens e a prudência dos idosos. Sensível, sofre demais, quando tem que dizer não a alguém. Como seguidor de Cristo se compadece dos irmãos, ao sentir a desolação de tantos que parecem “ovelhas sem pastor” (Mt 9, 36). Suas palavras inspiradas e reconfortantes nos tranquilizam. Suas preces fortalecem a todos. Seu coração de pastor leva-o a rezar pela grei que Cristo lhe confiou. Suplica a Deus por aqueles que acumulam fortunas, mas mendigam o pão da alegria. Roga ao Pai por intelectuais e eruditos, desprovidos de Luz. Intercede pelos que detêm poder e glória, mas carecem de paz. Apieda-se das vítimas de uma solidão povoada. Lamenta por aqueles que falam diversos idiomas, mas desconhecem a linguagem do amor. Rejeita o pecado, mas se condói dos pecadores e lembra Exupéry: “Ninguém é perfeito no país dos homens.” Procura ser próximo, diante de tanta indiferença e individualismo. Monsenhor vive a mensagem do apóstolo Paulo: “Fiz-me tudo para todos a fim de salvar alguns” (1Cor 9,22).

Nosso aniversariante tem o encanto por Deus. Ama encontrar o Eterno na beleza da Palavra Sagrada. Eis porque pediu a Dom Nivaldo Monte que o ungisse sacerdote no Domingo da Bíblia. Ele não lê apenas a Sagrada Escritura, procura vivê-la e sente Deus falando no Saltério do Ofício das Horas. Não cumpre simplesmente o ritual da Missa, é um sedento de Cristo, vivo na transcendência litúrgica. Tudo é manifestação do Eterno. Tem consciência de que “A Bíblia permite-nos penetrar na intimidade de Deus”, como afirmava Santa Edith Stein.

Há cinco décadas e meia, Monsenhor Lucas tem sido, nesta Cidade, elo entre Deus e os homens, ponte entre o Eterno e o efêmero, o Divino e o humano. Ele vive a recomendação de Dom Helder Câmara, sobre quem prepara um livro: “Uma coisa tu podes e deves fazer sempre por todos: rezar. Deus escutará a tua prece de homem consagrado.”

A Igreja necessita de arautos do Evangelho, que conheçam bem o coração das pessoas, participem de suas alegrias e esperanças, angústias e tristezas, sejam contemplativos e apaixonados pelo Sobrenatural. É preciso que vivam como pais amorosos e irmãos aconchegantes. Nosso homenageado sempre transmite tais sentimentos.

Somos gratos, Monsenhor, por buscar romper em nós, seus irmãos na fé, a pretensiosa autossuficiência, convencendo-nos de que só Deus nos basta. Somos gratos pelas belas lições inspiradas no Evangelho, transmitidas em seus programas radiofônicos, retiros, excursões e homilias. Você nasceu profeta. Pregou firme, ao ver fraqueza. Ensinou ternura, ao sentir rigidez. Irradiou amor, quando presenciou insensibilidade ou ira. Ensinou diálogo, quando percebia radicalização. Foi viandante e peregrino no seu profícuo apostolado: em Pendências, Ipanguaçu, São Rafael, Macau e Natal. Demonstrou aos fiéis que a Igreja não possui fronteiras e agrega. Em suas celebrações reúne fiéis de diferentes lugares, condições sociais ou culturais.

Hoje, reunimo-nos para expressar nossa gratidão pelo privilégio de seus conselhos, bençãos e amizade. Nós o amamos deveras. O amor dispensa palavras e o reconhecimento é maior do que o discurso. Na singeleza de nossas palavras, queremos externar nosso agradecimento. A gratidão é parte integrante da nobreza da alma.

Monsenhor Lucas é manifestação terrena do carinho de Deus por nós. Cabem-lhe bem as palavras de João Paulo I, quando Patriarca de Veneza: “Os sacerdotes valem muito, quando são sacrários do Infinito.”

Desafios e lutas acompanham a sua trajetória humana. Participativo e solidário, ainda jovem, Lucas procurou ajudar os pais a educar uma família de onze irmãos. Na juventude chegou a ser frentista de posto de gasolina e sorveteiro. Na infância vendia leite e coalhada, de porta em porta, para ajudar sua mãe, uma santa e heroína. Em todas as dificuldades permaneceu fiel a Deus. Não guarda traumas e recalques por conta de tristezas e decepções. Conservou sempre a alegria em sua alma, a bondade no coração e as mãos estendidas para perdoar e acolher. Pode dizer: “Combati o bom combate, guardei a minha fé” (2Tm 4, 7).

Muito lhe deve o Povo de Deus, especialmente a Arquidiocese de Natal, onde desempenhou importantes funções: pároco, vigário episcopal, professor, coordenador estadual do ensino religioso, membro dos conselhos presbiteral e episcopal, consultor arquidiocesano, capelão, diretor de faculdade, criador de mais de trinta pastorais católicas e serviços paroquiais. Foi gigante na preparação para a vinda de São João Paulo II a Natal para o Congresso Eucarístico Nacional.

Dentre tantas virtudes que possui, distingue-se pela simplicidade e lhaneza, capacidade de servir, obediência, espírito de fraternidade e alegria cativante. Presença amiga e autenticamente solidária nos momentos de alegrias, dores e tristezas de seus paroquianos, amigos, enfim do Povo de Deus. Já me administrou duas vezes a unção dos enfermos e, quando estou doente ou hospitalizado, nunca me deixou sem o conforto da Eucaristia. Raríssima é a semana em que não está presente nos centros de velório e cemitérios, confortando as famílias e falando sobre a vida em plenitude.

Nosso homenageado é um bom pastor, que ama verdadeiramente seu rebanho. “Só quem ama é capaz de ter ouvidos”, dissera o poeta Olavo Bilac. Por isso, sabe escutar. Desse modo, tornou-se muito estimado e respeitado em toda Natal. Sua inspiração brota do Evangelho: a Boa Nova. Lucas prima pela criatividade e disponibilidade. O Cardeal Carlo Martini, arcebispo de Milão, escreveu a seu clero: “Os padres que não são disponíveis não podem ser chamados de discípulos de Cristo, pois o Filho de Deus estava sempre pronto para acolher e perdoar.” Hoje, temos a imensa alegria de agradecer ao Senhor da Vida por ter um irmão tão querido pelo Povo de Deus. É amado, porque irradia Deus e sua paz a tantos nesta Cidade.

Que o Senhor o conserve são, lúcido, alegre, generoso e forte. Continue, Lucas, afirmando que é importante o balbuciar da prece. Esta carrega a marca do Divino, fornalha que arde em nosso coração. O Espírito Santo o ilumine sempre e fortaleça a sua alma, console-o nas tribulações e aumente a sua fé na graça que transforma o homem e o mundo. Caríssimo irmão, sinta sempre a força do Alto e possa dizer como Santo Agostinho: “Sei, Senhor, que me conduzes pelas estradas do amor e da misericórdia. Tu, que penetras em minha alma e invades minha vida; a Ti, somente a Ti eu quero amar, a Ti somente a Ti desejo servir”! Obrigado Lucas pelo seu amor à Igreja e sua vida de completa doação a Cristo. Você poderá cantar como Maria Santíssima no Magnificat: “O Senhor fez em mim maravilhas, santo é o seu nome” (Lc 1, 49). Meu afetuoso abraço e que Deus nos abençoe sempre. Amém!

Catedral Metropolitana de Natal, 26 de setembro de 2025, às 11 horas.

Padre João Medeiros Filho

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