Monsenhor Lucas Batista Neto foi agraciado com muitos
carismas e virtudes. Encanta-nos o seu jeito de ser: espontâneo, criativo,
disponível, manso, simples e fraterno. Tem a serenidade dos místicos, a ousadia
dos jovens e a prudência dos idosos. Sensível, sofre demais, quando tem que
dizer não a alguém. Como seguidor de Cristo se compadece dos irmãos, ao sentir
a desolação de tantos que parecem “ovelhas sem pastor” (Mt 9, 36). Suas
palavras inspiradas e reconfortantes nos tranquilizam. Suas preces fortalecem a
todos. Seu coração de pastor leva-o a rezar pela grei que Cristo lhe confiou.
Suplica a Deus por aqueles que acumulam fortunas, mas mendigam o pão da
alegria. Roga ao Pai por intelectuais e eruditos, desprovidos de Luz. Intercede
pelos que detêm poder e glória, mas carecem de paz. Apieda-se das vítimas de
uma solidão povoada. Lamenta por aqueles que falam diversos idiomas, mas
desconhecem a linguagem do amor. Rejeita o pecado, mas se condói dos pecadores
e lembra Exupéry: “Ninguém é perfeito no país dos homens.” Procura ser próximo,
diante de tanta indiferença e individualismo. Monsenhor vive a mensagem do
apóstolo Paulo: “Fiz-me tudo para todos a fim de salvar alguns” (1Cor 9,22).
Nosso aniversariante tem o encanto por Deus. Ama encontrar
o Eterno na beleza da Palavra Sagrada. Eis porque pediu a Dom Nivaldo Monte que
o ungisse sacerdote no Domingo da Bíblia. Ele não lê apenas a Sagrada
Escritura, procura vivê-la e sente Deus falando no Saltério do Ofício das
Horas. Não cumpre simplesmente o ritual da Missa, é um sedento de Cristo, vivo
na transcendência litúrgica. Tudo é manifestação do Eterno. Tem consciência de
que “A Bíblia permite-nos penetrar na intimidade de Deus”, como afirmava Santa
Edith Stein.
Há cinco décadas e meia, Monsenhor Lucas tem sido, nesta
Cidade, elo entre Deus e os homens, ponte entre o Eterno e o efêmero, o Divino
e o humano. Ele vive a recomendação de Dom Helder Câmara, sobre quem prepara um
livro: “Uma coisa tu podes e deves fazer sempre por todos:
rezar. Deus escutará a tua prece de homem consagrado.”
A Igreja necessita de arautos do Evangelho,
que conheçam bem o coração das pessoas, participem de suas alegrias e
esperanças, angústias e tristezas, sejam contemplativos e apaixonados pelo
Sobrenatural. É preciso que vivam como pais amorosos e irmãos aconchegantes. Nosso homenageado sempre transmite tais sentimentos.
Somos
gratos, Monsenhor, por buscar romper em nós, seus irmãos na fé, a pretensiosa
autossuficiência, convencendo-nos de que só Deus nos basta. Somos gratos pelas
belas lições inspiradas no Evangelho, transmitidas em seus programas
radiofônicos, retiros, excursões e homilias. Você nasceu profeta. Pregou firme,
ao ver fraqueza. Ensinou ternura, ao sentir rigidez. Irradiou amor, quando
presenciou insensibilidade ou ira. Ensinou diálogo, quando percebia
radicalização. Foi viandante e peregrino no seu profícuo apostolado: em
Pendências, Ipanguaçu, São Rafael, Macau e Natal. Demonstrou aos fiéis que a
Igreja não possui fronteiras e agrega. Em suas celebrações reúne fiéis de
diferentes lugares, condições sociais ou culturais.
Hoje, reunimo-nos para expressar nossa gratidão pelo
privilégio de seus conselhos, bençãos e amizade. Nós o amamos deveras. O amor
dispensa palavras e o reconhecimento é maior do que o discurso. Na singeleza de
nossas palavras, queremos externar nosso agradecimento. A
gratidão é parte integrante da nobreza da alma.
Monsenhor Lucas é manifestação terrena do carinho de Deus
por nós. Cabem-lhe bem as palavras de João Paulo I, quando Patriarca de Veneza:
“Os sacerdotes valem muito, quando são sacrários do Infinito.”
Desafios e lutas acompanham a sua trajetória humana.
Participativo e solidário, ainda jovem, Lucas procurou ajudar os pais a educar
uma família de onze irmãos. Na juventude chegou a ser frentista de posto de
gasolina e sorveteiro. Na infância vendia leite e coalhada, de porta em porta,
para ajudar sua mãe, uma santa e heroína. Em todas as dificuldades permaneceu
fiel a Deus. Não guarda traumas e recalques por conta de tristezas e decepções.
Conservou sempre a alegria em sua alma, a bondade no coração e as mãos
estendidas para perdoar e acolher. Pode dizer: “Combati o bom combate, guardei
a minha fé” (2Tm 4, 7).
Muito lhe deve o Povo de Deus, especialmente a
Arquidiocese de Natal, onde desempenhou importantes funções: pároco, vigário
episcopal, professor, coordenador estadual do ensino religioso, membro dos
conselhos presbiteral e episcopal, consultor arquidiocesano, capelão, diretor
de faculdade, criador de mais de trinta pastorais católicas e serviços
paroquiais. Foi gigante na preparação para a vinda de São João Paulo II a Natal para o Congresso Eucarístico Nacional.
Dentre
tantas virtudes que possui, distingue-se pela simplicidade e lhaneza,
capacidade de servir, obediência, espírito de fraternidade e alegria cativante.
Presença amiga e autenticamente solidária nos momentos de alegrias, dores e
tristezas de seus paroquianos, amigos, enfim do Povo de Deus. Já me administrou
duas vezes a unção dos enfermos e, quando estou doente ou hospitalizado, nunca
me deixou sem o conforto da Eucaristia. Raríssima
é a semana em que não está presente nos centros de velório e cemitérios,
confortando as famílias e falando sobre a vida em plenitude.
Nosso
homenageado é um bom pastor, que ama verdadeiramente seu rebanho. “Só quem ama
é capaz de ter ouvidos”, dissera o poeta Olavo Bilac. Por isso, sabe escutar.
Desse modo, tornou-se muito estimado e respeitado em toda Natal. Sua inspiração
brota do Evangelho: a Boa Nova. Lucas prima pela criatividade e
disponibilidade. O Cardeal Carlo Martini, arcebispo de Milão, escreveu a seu
clero: “Os padres que não são disponíveis não
podem ser chamados de discípulos de Cristo, pois o Filho de Deus estava sempre
pronto para acolher e perdoar.” Hoje, temos a imensa alegria de
agradecer ao Senhor da Vida por ter um irmão tão querido pelo Povo de Deus. É
amado, porque irradia Deus e sua paz a tantos nesta Cidade.
Que o Senhor o conserve são, lúcido, alegre, generoso e forte. Continue,
Lucas, afirmando que é importante o balbuciar da prece. Esta carrega a marca do
Divino, fornalha que arde em nosso coração. O Espírito Santo o ilumine sempre e fortaleça a sua alma, console-o nas
tribulações e aumente a sua fé na graça que transforma o homem e o mundo. Caríssimo
irmão, sinta sempre a força do Alto e possa dizer como Santo Agostinho: “Sei,
Senhor, que me conduzes pelas estradas do amor e da misericórdia. Tu, que
penetras em minha alma e invades minha vida; a Ti, somente a Ti eu quero amar,
a Ti somente a Ti desejo servir”! Obrigado Lucas pelo seu amor
à Igreja e sua vida de completa doação a Cristo. Você poderá cantar como Maria
Santíssima no Magnificat: “O Senhor fez em mim maravilhas, santo é o seu nome” (Lc 1, 49).
Meu afetuoso abraço e que Deus nos abençoe sempre. Amém!
Catedral Metropolitana de Natal, 26 de
setembro de 2025, às 11 horas.
Padre João Medeiros Filho
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