terça-feira, 18 de novembro de 2025

A Padroeira de Natal e da Arquidiocese

 

Padre João Medeiros Filho

No calendário litúrgico da Igreja Católica, celebra-se em 21 de novembro a festa da Apresentação da Virgem Santíssima. Recorda-se o momento em que Ela foi levada ao Templo por seus pais Joaquim e Ana. A Bíblia não relata tal acontecimento, que nos é chegado pelos escritos apócrifos. No Oriente, a partir do século VII, comemora-se a festividade da Apresentação nesse mesmo dia, aniversário da Dedicação da Igreja de Santa Maria Nova, em Jerusalém. No Ocidente, atendendo   ao pedido do embaixador de Chipre junto à Santa Sé, a cerimônia foi introduzida no século X pelo Papa Gregório XI. Entretanto, a solenidade foi estendida, em 1585, para toda a Igreja pelo Papa Sisto V. Nas primeiras décadas do cristianismo, o culto à Mãe do Salvador começou a despertar interesse nos fiéis e artistas plásticos, surgindo afrescos e belíssimas pinturas sobre o tema, dentre eles, representações sobre a Apresentação da Virgem.

No Brasil, a primeira paróquia dedicada a essa invocação, ocorreu em 1599, na cidade do Natal (RN). Escreve Frei Agostinho de Santa Maria: “Na capela-mor, foi colocada uma grande e formosa pintura representando a Santa Menina, levada ao Templo de Jerusalém.” No Bairro de Irajá, na cidade do Rio de Janeiro, em 1644, erigiu-se um templo sob a proteção de Nossa Senhora da Apresentação, elevada à categoria de matriz “ex-vi” do alvará de Dom João IV, datado de 10/02/1647. Trata-se da segunda paróquia brasileira com a citada invocação. Ainda no século XVII, criou-se uma terceira freguesia com o mesmo orago, na cidade de Porto Calvo (AL).

Os mariologistas são unânimes em afirmar que a devoção a Nossa Senhora remonta aos primórdios da Igreja. Ao longo dos anos, explicitam-se paulatinamente as virtudes da Genitora de Jesus, subjacentes no Novo Testamento. As comunidades primitivas inseriam o culto marial no contexto das festas que celebram os mistérios de Cristo. Foi justamente d’Ele que sua Mãe hauriu a relevância, destacada também pelo Papa Leão XIV, em seu recente documento “Mater Populi Fidelis” (Mãe do Povo Fiel). Nos primeiros séculos, existe a preocupação da Igreja de não separar a pessoa e a missão da Virgem Santíssima de seu Filho. O culto à Mãe de Deus tem suas raízes no Evangelho. Após a Ascensão do Senhor, os apóstolos e a primeira comunidade eclesial reuniram-se em torno de Maria (cf. At 1,12-14) a fim de receber o Paráclito.

Com o anúncio da Boa Nova, a veneração à Mãe Celestial difundiu-se entre os cristãos, pois acreditavam que dela faz parte Nossa Senhora. O bispo Cromácio de Aquileia (347-407) dizia: “Não se pode falar da Igreja, a não ser que aí esteja quem gerou o Filho de Deus.” Os cristãos dos primeiros séculos sempre ressaltaram a excelsa figura da Virgem de Nazaré. A tradição católica e as descobertas realizadas por historiadores e estudiosos de arqueologia atestam que a liturgia celebra a Virgem Santíssima, desde os tempos apostólicos. O fato é testemunhado por efígies e manifestações artísticas sobre Nossa Senhora, encontradas nas catacumbas e em edificações romanas, datando dos albores do cristianismo. 

Sendo Mãe de Deus em Cristo, Ela contempla o Pai eternamente com o seu olhar puro e maternal. Primeiramente, deve-se lembrar que Maria de Nazaré é nossa irmã (ser humano, mas isenta de pecado) e igualmente nossa Mãe, por livre vontade de seu Filho e Dela (cf. Jo 19, 26-27). Por sua ternura maternal colocar-nos-á em contato permanente com o Pai e seu Filho dileto. Não se pode viver sem mãe espiritual. Eis uma razão relevante pela qual o Criador quis, pelo seu Filho amado, presentear-nos um coração materno, pleno de meiguice e misericórdia, face terrena do Divino. Nossa Senhora também é filha da terra e, como nós, peregrina. Ela aspirou e esperou pela Pátria prometida e definitiva, na qual o Reino de seu Filho é uma realidade que nos aguarda. Maria pode amainar as nossas saudades de Deus, pois também aguardou Aquele que seria capaz de trazer a Vida e a Paz. Ela teve sede de salvação e, privilegiada, segurou em seus braços o Salvador. E assim proclama: “A minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador” (Lc 1, 46).

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