Padre João Medeiros Filho
No calendário litúrgico da Igreja Católica, celebra-se em 21 de novembro
a festa da Apresentação da Virgem Santíssima. Recorda-se o momento em que Ela foi
levada ao Templo por seus pais Joaquim e Ana. A Bíblia não relata tal
acontecimento, que nos é chegado pelos escritos apócrifos. No Oriente, a partir
do século VII, comemora-se a festividade da Apresentação nesse mesmo dia,
aniversário da Dedicação da Igreja de Santa Maria Nova, em Jerusalém. No
Ocidente, atendendo ao pedido do
embaixador de Chipre junto à Santa Sé, a cerimônia foi introduzida no século X
pelo Papa Gregório XI. Entretanto, a solenidade foi estendida, em 1585, para
toda a Igreja pelo Papa Sisto V. Nas primeiras décadas do
cristianismo, o culto à Mãe do Salvador começou a despertar interesse nos fiéis
e artistas plásticos, surgindo afrescos e belíssimas pinturas sobre o tema,
dentre eles, representações sobre a Apresentação da Virgem.
No Brasil, a primeira paróquia dedicada a essa
invocação, ocorreu em 1599, na cidade do Natal (RN). Escreve Frei Agostinho de
Santa Maria: “Na capela-mor, foi
colocada uma grande e formosa pintura representando a Santa Menina, levada ao
Templo de Jerusalém.” No Bairro de Irajá, na cidade do Rio de Janeiro,
em 1644, erigiu-se um templo sob a
proteção de Nossa Senhora da Apresentação, elevada à categoria de matriz “ex-vi” do alvará
de Dom João IV, datado de 10/02/1647. Trata-se
da segunda paróquia brasileira com a citada invocação. Ainda no século XVII, criou-se
uma terceira freguesia com o mesmo orago, na cidade de Porto Calvo (AL).
Os mariologistas são unânimes em afirmar que a devoção a Nossa
Senhora remonta aos primórdios da Igreja. Ao longo dos anos, explicitam-se paulatinamente
as virtudes da Genitora de Jesus, subjacentes no Novo Testamento. As
comunidades primitivas inseriam o culto marial no contexto das festas que
celebram os mistérios de Cristo. Foi justamente d’Ele que sua Mãe hauriu a relevância,
destacada também pelo Papa Leão XIV, em seu recente documento “Mater Populi
Fidelis” (Mãe do Povo Fiel). Nos primeiros séculos, existe a preocupação da
Igreja de não separar a pessoa e a missão da Virgem Santíssima de seu Filho. O
culto à Mãe de Deus tem suas raízes no Evangelho. Após a Ascensão do Senhor, os
apóstolos e a primeira comunidade eclesial reuniram-se em torno de Maria (cf.
At 1,12-14) a fim de receber o Paráclito.
Com o anúncio da Boa Nova,
a veneração à Mãe Celestial difundiu-se entre os cristãos, pois acreditavam que
dela faz parte Nossa Senhora. O bispo Cromácio de Aquileia (347-407) dizia: “Não
se pode falar da Igreja, a não ser que aí esteja quem gerou o Filho de Deus.” Os cristãos dos primeiros séculos sempre ressaltaram a excelsa figura da
Virgem de Nazaré. A tradição católica e as descobertas realizadas por historiadores
e estudiosos de arqueologia atestam que a liturgia celebra a Virgem Santíssima,
desde os tempos apostólicos. O fato é testemunhado por efígies e manifestações
artísticas sobre Nossa Senhora, encontradas nas catacumbas e em edificações
romanas, datando dos albores do cristianismo.
Sendo Mãe de Deus em Cristo, Ela contempla o Pai
eternamente com o seu olhar puro e maternal. Primeiramente, deve-se lembrar que
Maria de Nazaré é nossa irmã (ser humano, mas isenta de pecado) e igualmente nossa
Mãe, por livre vontade de seu Filho e Dela (cf. Jo 19, 26-27). Por sua ternura
maternal colocar-nos-á em contato permanente com o Pai e seu Filho dileto. Não
se pode viver sem mãe espiritual. Eis uma razão relevante pela qual o Criador
quis, pelo seu Filho amado, presentear-nos um coração materno, pleno de meiguice
e misericórdia, face terrena do Divino.
Nossa Senhora também é filha da terra e, como nós, peregrina. Ela aspirou e
esperou pela Pátria prometida e definitiva, na qual o Reino de seu Filho é uma
realidade que nos aguarda. Maria pode amainar as nossas saudades de Deus, pois
também aguardou Aquele que seria capaz de trazer a Vida e a Paz. Ela teve sede
de salvação e, privilegiada, segurou em seus braços o Salvador. E assim
proclama: “A minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador” (Lc
1, 46).
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