Ney Lopes
Voltam ao debate latino-americano, as denúncias de Hugo “El Pollo” Carvajal, ex-chefe da inteligência venezuelana, hoje sob custódia nos Estados Unidos, sobre suposto financiamento de líderes e partidos de esquerda, por meio de recursos da petroleira estatal PDVSA, durante os governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. O presidente Lula teria sido um dos principais beneficiários. Foi ele, quem na última sexta, voltou a elogiar o ditador venezuelano, Maduro, no discurso proferido no congresso do PCdoB, em Brasília.
Lula aproveitou o palco “comunista” para externar a sua já conhecida incoerência e ambiguidade pública. Ele “joga para a plateia”. Alterna gestos de apoios, com críticas pontuais em função de quem se dirija no momento. Essa “personalidade dupla” lhe permite colocar-se como “mediador”, mesmo diante de eleições fraudulentas e notórias violações de direitos humanos.
Quando lhe é convenente, externa apoio como fez também na última sexta, quando afirmou que “Cuba é um exemplo de povo de dignidade”.
Financiamento de Maduro
Quanto ao dinheiro presumidamente recebido de Maduro para financiar as suas campanhas no Brasil, Lula nega e hesita sobre as versões tornadas públicas. Os indícios, entretanto, são veementes pelas atitudes públicas do apoio incondicional dele aos líderes venezuelanos. Vejamos casos concretos.
Primeiro, após a morte de Chávez, Lula se tornou o fiador internacional para Maduro assumir o governo. Declarou: “Maduro presidente é a Venezuela que Chávez sonhou.”
Segundo, Lula e seu partido chegaram a reconhecer como “legítima” as eleições venezuelanas fraudulentas que mantiveram Maduro no poder. A Venezuela era a democracia mais rica da América Latina – foi transformada em um Estado criminoso dirigido por generais e traficantes. Mais de 8 milhões de venezuelanos já fugiram de seu país.
Terceiro, não é atoa que Lula recebeu, no Brasil, o presidente Maduro, com honras militares e tapete vermelho. Na ocasião, Maduro mandou seus militares agredir uma jornalista que ousou lhe fazer uma pergunta, mas tudo foi “abafado” pelo governo.
Quarto, a Assembleia Nacional da Venezuela destituiu o presidente eleito, que era dominado pela oposição. Lula manteve a lealdade ideológica e forneceu blindagem ao regime.
Quinto, Lula chegou a relativizar o conceito de democracia para justificar a sua abordagem de não condenação da Venezuela, alegando que o país “tem mais eleições do que o Brasil”.
Sexto, em 2023, quando a atual ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, María Corina Machado, foi tornada inelegível por 15 anos, Lula silenciou.
Outros fatos semelhantes ocorreram, demonstrando a íntima ligação de Lula com “amigos” venezuelanos”. A única expressão que pode ser usada é de “rabo preso”, que significa estar em uma posição de vulnerabilidade ou dependência, impedindo agir com liberdade ou independência.
Curtinhas
Perdas inestimáveis (I)
Quando viajava tomei conhecimento da morte da produtora cultural e professora Candinha Bezerra, esposa do senador Fernando Bezerra. Retorno a Natal, e chega a notícia do falecimento do velho amigo Paulo de Tarso Correia de Melo. Por acaso, duas expressões vivas da cultura potiguar.
Perdas inestimáveis (II)
A professora Candinha Bezerra teve a sua imagem sempre associada a mobilizações em favor da nossa cultura. Mantinha relacionamento de apoio e incentivo a grupos de intelectuais e artistas. Será uma perda irreparável para familiares, amigos e o estado do RN, que tinha nela o símbolo da mulher dedicada a família, presente e atuante.
Perdas inestimáveis (II)
Faleceu, em Natal, Paulo de Tarso Correia de Melo, 78, um dos mais conceituados escritores do RN. Curiosidade na biografia de Paulo de Tarso é que ele somente publicou a sua primeira obra em 1991. Tinha inúmeros textos escritos, que confinava na sua gaveta de carvalho. O primeiro livro foi “Talhes rupestres”, poemas resultantes de andanças na Grécia e Portugal. Depois, a Editora da UFRN publica “Talhe rupestre – poesia reunida e inéditos”, organizado e anotado pelo escritor Carlos Newton Júnior. Vários outros títulos foram publicados.
Honoris Causa
Homenagem merecida será prestada pela UFRN ao jornalista Afonso Laurentino Ramos, 91, sendo-lhe outorgado o título de Doutor Honoris Causa. Tive Afonso como um dos meus primeiros mentores no jornalismo, uma amizade que transpõe o tempo. A sua vida é dedicação a cultura, sem prejuízo de uma lúcida visão política. A solenidade será no próximo dia 24 de outubro.
Coluna
Desculpas ao leitor, por equívocos de revisão na coluna de ontem.
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