Padre João Medeiros Filho
No
Brasil, celebra-se o Dia dos Pais, no segundo domingo de agosto. O sentimento
de paternidade está no âmago da doutrina cristã. Jesus incluiu em sua mensagem
central a figura do pai, desvelada do mistério trinitário. Ele procurou dar
consciência dessa realidade e transmitiu uma religião paternal. Quando os
apóstolos Lhe pediram que lhes ensinasse a rezar, assim se expressou: “Quando
orardes, dizei: “Pai, santificado seja teu nome” (Lc 11, 1-2; cf. Mt 6, 9-13).
Nesta oração, as primeiras súplicas são voltadas para a necessidade de
reconhecer Deus, que nos gerou para a vida em plenitude. O apóstolo Paulo assevera-nos
de nossa filiação divina, ao lembrar na Carta aos Romanos: “Recebestes o espírito
da adoção filial” (Rm 8, 15). A cultura bíblica veterotestamentária alçava a
condição paterna do homem, próxima do sagrado e divino. O código de ética
religiosa, contido no Decálogo, estabelece o respeito devido aos pais, logo
após enunciar os deveres com o Onipotente e antes de enumerar nossas obrigações
com os semelhantes. “Honra teu pai” (Ex 20, 12), aconselha o Livro do Êxodo. Tal recomendação é endossada pela Carta aos Efésios:
“Filhos, sede obedientes a vossos genitores”
(Ef 6, 1).
O cristianismo prega um Deus paternal, que
vela por nós. Trata-se de algo insólito na história das religiões. Não somos
órfãos, largados à própria sorte. Os homens podem nos deixar esquecidos,
abandonados, à deriva em nossa trajetória existencial. Entretanto, há alguém
que nunca nos abandona: Deus. Nossos progenitores terrenos são ícones Dele, que
é rico de clemência, pródigo de bondade, compaixão e afeto. Por outro lado, Cristo
revelou que a paternidade não consiste simplesmente numa geração biológica, mas
em tudo aquilo que faz brotar dentro de nós amor, respeito, fidelidade,
confiança, justiça, esperança... Isto significa que Ele ampliou a semântica do
termo. Ser pai vai muito além de fatores
biológicos. Abrange uma engenhosa construção sobrenatural, densa de significado
e plenitude divina. A paternidade
constitui-se em substrato afetivo e espiritual, indispensável para se viver com
qualidade, não apenas a própria existência, mas também a trajetória de uma
sociedade equânime e solidária. Na
caminhada humana, nossos genitores são réstias do Divino, acenos do Infinito e
janelas do Eterno. Cristo não dispensou o carinho e a proteção de uma figura paterna
humana.
Quem
não recorda com ternura os que nos transmitiram o dom da vida, dádiva inefável
de Deus? Como esquecer aqueles que nos acolheram, quando pequenos ou grandes,
com sorrisos e braços abertos? Como não lembrar das histórias que nos contavam,
para nos fazer adormecer? É inolvidável sua dedicação, quando após um dia
estafante de trabalho, ainda encontravam tempo para brincar conosco. Inesquecível
a nossa infância, quando guiavam nossos primeiros passos, sonhando com o futuro.
Incalculável o número dos que renunciaram a seus sonhos e projetos para cuidar
da formação dos filhos, aperfeiçoando seu caráter, ensinando-lhes a ser verdadeiros,
dignos, íntegros e responsáveis. Ao pensar neles, nossos corações transbordam
de amor, gratidão e saudade.
Um feliz dia para todos os
que transmitiram o dom da vida, amam, educam, protegem e sabem dizer não,
quando necessário. Aconselham, mostram a dimensão, o sentido e o valor do ser
humano. A eles, nosso perene agradecimento e preces! Cabe rogar a Cristo (que não
dispensou a proteção de São José) as bençãos para todos que têm a missão de imitar
o gesto divino de gerar. Deus derrame sem cessar graças abundantes sobre seus
filhos dedicados, que buscam um mundo mais humano e fraterno. Nossos pais são afagos
celestiais, calor e aconchego espiritual para que possamos sentir a presença de
Deus bem perto de nós. Parabéns e orações para nossos pais terrenos, que
peregrinaram nas estradas da existência e continuarão vivos em cada um de nós. Que
o Pai Eterno e Infinito ilumine cotidianamente os que nos geraram e buscam um
mundo com menos diferenças e privilégios, no qual os direitos sejam iguais. Não
esqueçamos o conselho bíblico: “Aceita,
filho, a disciplina do teu pai e não desprezes a instrução de tua mãe; elas
serão um formoso diadema na tua cabeça e colares
no teu pescoço” (Pr 1, 8).
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