Padre João Medeiros Filho
A solenidade da Assunção de Nossa
Senhora é celebrada na liturgia católica, no dia 15 de agosto. Entretanto, no
Brasil, a festividade foi transferida para o domingo subsequente à data. O
culto à Virgem elevada ao Céu é um dos mais antigos do catolicismo, remontando
ao século V. Em 1º de novembro de 1950, pela Bula “Munificentissimus Deus”, o Papa Pio XII proclamou o dogma da
Assunção, declarando: “Terminada
a sua peregrinação terrena, Maria foi assunta ao Céu em corpo e alma.”
Os teólogos divergem sobre a morte
biológica da Mãe de Jesus. Alguns acreditam e ensinam que Ela não morreu.
Partem do argumento de sua Imaculada Conceição. Se por dádiva divina foi
preservada de todo o pecado e gerou o Filho de Deus, não deveria perecer, como
os demais seres humanos. Outra corrente teológica afirma que a morte, enquanto
término da vida terrena, tornaria a Mãe Celestial semelhante a seu Unigênito. Por
essa razão, Ela haveria de passar por tal momento, pois Cristo, o Senhor da
Vida, aceitou padecê-lo. Os defensores dessa teoria acreditam que a
Corredentora faleceu, mas foi poupada da degradação corporal, consequência do
pecado. Assim seu corpo, “primeiro sacrário de Cristo”, segundo expressão de
São João Paulo II, não se corrompeu. O Magistério da Igreja preferiu não entrar
no mérito dessa questão, considerada menos relevante por certos teólogos. A Virgem Santíssima desempenhou um
papel fundamental no cristianismo e por isso merecia ser arrebatada por Deus
para a glorificação imediata. Seu corpo santo e puro, exemplar da beleza do ser
humano, criado pelo Pai nos primórdios da história, não poderia ser destruído. A “imagem resplandecente do Deus
vivo e seu rosto materno na terra”, consoante São Boaventura, deveria brilhar imediatamente
na Eternidade.
A Assunção de Maria Santíssima é motivo de ufania para
os cristãos. Elevada ao Céu, torna-se ainda mais nossa intercessora. Daí, o orago de Medianeira das Graças. Deus
distinguiu a Genitora de Cristo e Nela a criatura humana foi exaltada. Assim,
entende-se o merecido título de Nossa Senhora da Guia ou da Glória. Seu
corpo imaculado, após a peregrinação terrena, foi transportado ao Céu, enquanto
primícias dos justos. É significativo o louvor que se presta à Virgem Santíssima,
denominando-a de Nossa Senhora da Vitória ou
do Paraíso, como a invocam os cristãos greco-melquitas.
Maria é ícone e esperança de
quantos aspiram por liberdade e vida, alegria e paz. É garantia de que Deus nos
reserva a beleza da Eternidade. É a certeza do amor incomensurável de seu
Filho, que nos resgatou e morreu para nos libertar. Não gozamos do privilégio
de ser arrebatados ao Céu em corpo e alma, imediatamente após a nossa morte. No
entanto, podemos elevar a Deus o espírito para que seja tomado pela sua graça
infinita. A Virgem de Nazaré ensina-nos que o Onipotente opera em nós
maravilhas. Ela está ao lado de seu Filho para interceder por nós. Aquela que
foi alçada à eterna morada, em corpo e alma, convida-nos a levantar a cabeça, acima
das míseras tentações do mundo. A
Assunção de Maria não é um sonho, e sim a esperança de todos os cristãos de que
um dia o Pai nos chamará para a glorificação. Maria Assunta ao Céu é a
conclusão de sua existência, desfecho inevitável da pureza e santidade, do amor
e fidelidade ao Deus da Vida.
A Assunção da Mãe de
Jesus é fruto de toda uma trajetória dedicada ao plano de Deus, que deseja a libertação
para o seu povo. Maria é penhor de quantos aspiram por paz e liberdade. Ela,
por Cristo, mostra-nos o caminho que leva a Deus, nossa origem e destino. O Pai Celeste não esquece seus filhos, nem os
abandona. Exalta-os e recompensa pela fé. Nossa Senhora indica-nos como viver a
peregrinação terrena, não obstante as dores e provações. Acreditou num mundo
novo, o qual começa com o nascimento de seu Filho e vai se tornando concreto, à
medida em que cresce a consciência da necessidade de amor e fraternidade, diálogo
e serviço. Maria coloca-se como um instrumento nas mãos de Deus. “O Todo-Poderoso fez por mim grandes coisas,
santo é seu nome” (Lc 1, 49).
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