Padre João
Medeiros Filho
Agosto é o mês
vocacional para a Igreja Católica. Em seu primeiro domingo, celebra-se o Dia do
Padre, em homenagem a São João Maria Vianney (Cura d’Ars), cuja festa ocorre no
dia quatro. Alegro-me por ter sido ungido sacerdote nesse mês. Uma pergunta
povoa a mente de muitos: Quem é o padre? É alguém escolhido para cuidar do Povo
de Deus, não para realizar seus projetos pessoais, e sim para estar perto dos
irmãos que Cristo, através da Igreja, Lhe confiou. Alertava o Cura d’ Ars: “O padre não existe para si. Não lhe dá a
absolvição, nem lhe administra os sacramentos. Existe para os fiéis.” Ninguém
deve ficar excluído de seu coração e suas orações. Com a ternura de um pai foi
eleito para acolher e aproximar. Importa que seja uma face
terrena de Deus, um acenar do afeto infinito, uma fonte de graças divinas a nos
saciar e apontar os caminhos celestiais. Seja ele o sinal de Deus Amor, que um
dia nos perfilhou e aguarda-nos na Eternidade, como o
Pai, na metáfora do Filho Pródigo (Lc 15, 11ss).
Importa ao
presbítero ser o ministro da comunhão que celebra e vive. Longe dele, querer
esperar sempre elogios. Seja o primeiro a dar as mãos, consolar os tristes ou
abatidos e rejeitar a maldade. Com paciência comover-se-á dos irmãos e
acompanhará os passos dos que caem nos caminhos da vida, concedendo-lhes o
perdão divino com generosa compaixão. Não condenará quem abandona ou se perde na
estrada da existência, estando sempre disposto a reintegrá-lo. Deve saber
incluir e nunca excluir, por conta de posições religiosas ou ideológicas. Talvez
pareça paradoxal, mas a beleza do sacerdócio
ministerial consiste na misericórdia de Deus amoroso, que escolhe vasos de
argila (2Cor 3, 10), seres frágeis, para continuar a
presença de Seu Filho no mundo. Cristo elege criaturas limitadas para
compreender e perdoar, em nome do Amor infinito, os que O buscam e necessitam
da ternura divina.
Faz pensar a
citação do Papa Francisco na homilia de uma Quinta-feira Santa, pouco antes da
benção dos Santos Óleos. Aludindo ao seu aroma, pediu aos presbíteros que a
unção recebida no dia da ordenação não os afaste do “cheiro do povo”. Tudo o
que não é doado, deteriora e faz mal. A unção não nos foi dada para perfumar a
nós mesmos, menos ainda para ser guardada num frasco. Quando isso acontece, o
óleo torna-se rançoso e o coração fica amargo.” Quanto mais ungido, melhor o
presbítero cumprirá sua missão. O inesquecível amigo Oswaldo
Lamartine de Faria chamava-me de “vaqueiro de Jesus Cristo.” Ressaltava: “Você é vaqueiro
e nunca o dono do rebanho, o qual é de Deus. Há quem pense erroneamente ser o proprietário
da grei. Alguns nem sabem aboiar.” E arrematou: “O povo gosta do Evangelho pregado com unção
e piedade. Assim, convém
a um pastor.”
O padre não
deve ser adorador da lamentação, espalhando o azedume das queixas e a acidez da
crítica destrutiva e do pessimismo, denunciando uma alma infeliz e frustrada. Importa
ser alegre e otimista, cheio de bom humor, portador da Palavra suave e meiga,
pronto para consolar e animar. Que seja cultivador da oração e do estudo, capaz
de abrir as portas aos infelizes e desfavorecidos. Estenda os braços com
misericórdia para compreender e acolher. O Povo de Deus quer sentir nele uma pessoa
desapegada, dócil, simples, disponível para escutar e perdoar, nunca instalada,
mas sensível, voltada para o Evangelho e não para os próprios interesses.
O sacerdote
deverá ser o homem do Essencial, por isso passível de incompreensões e
questionamentos de um mundo em que muitos zombam do Absoluto. Ele é o profeta
do Eterno, mesmo que pregue no deserto, qual João Batista. E isto o relaciona
profundamente com um aspecto importante do seu ministério: mensageiro da graça
divina, através da Palavra e dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia. “Eu te
escolhi para exercer o meu sacerdócio, para subir ao meu altar, para fazer a
oferenda em favor dos meus filhos” (1Sm 2, 28). Assim declarou Dom Manuel
Tavares de Araújo, após ungir as minhas mãos, há sessenta anos. Ao beijá-las,
acrescentou: “João, tu és sacerdote para sempre” (Sl 110/109,4).
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