terça-feira, 19 de agosto de 2025

A missão do sacerdote

 


Padre João Medeiros Filho

Agosto é o mês vocacional para a Igreja Católica. Em seu primeiro domingo, celebra-se o Dia do Padre, em homenagem a São João Maria Vianney (Cura d’Ars), cuja festa ocorre no dia quatro. Alegro-me por ter sido ungido sacerdote nesse mês. Uma pergunta povoa a mente de muitos: Quem é o padre? É alguém escolhido para cuidar do Povo de Deus, não para realizar seus projetos pessoais, e sim para estar perto dos irmãos que Cristo, através da Igreja, Lhe confiou. Alertava o Cura d’ Ars: “O padre não existe para si. Não lhe dá a absolvição, nem lhe administra os sacramentos. Existe para os fiéis.” Ninguém deve ficar excluído de seu coração e suas orações. Com a ternura de um pai foi eleito para acolher e aproximar. Importa que seja uma face terrena de Deus, um acenar do afeto infinito, uma fonte de graças divinas a nos saciar e apontar os caminhos celestiais. Seja ele o sinal de Deus Amor, que um dia nos perfilhou e aguarda-nos na Eternidade, como o Pai, na metáfora do Filho Pródigo (Lc 15, 11ss).

Importa ao presbítero ser o ministro da comunhão que celebra e vive. Longe dele, querer esperar sempre elogios. Seja o primeiro a dar as mãos, consolar os tristes ou abatidos e rejeitar a maldade. Com paciência comover-se-á dos irmãos e acompanhará os passos dos que caem nos caminhos da vida, concedendo-lhes o perdão divino com generosa compaixão. Não condenará quem abandona ou se perde na estrada da existência, estando sempre disposto a reintegrá-lo. Deve saber incluir e nunca excluir, por conta de posições religiosas ou ideológicas. Talvez pareça paradoxal, mas a beleza do sacerdócio ministerial consiste na misericórdia de Deus amoroso, que escolhe vasos de argila (2Cor 3, 10), seres frágeis, para continuar a presença de Seu Filho no mundo. Cristo elege criaturas limitadas para compreender e perdoar, em nome do Amor infinito, os que O buscam e necessitam da ternura divina.

Faz pensar a citação do Papa Francisco na homilia de uma Quinta-feira Santa, pouco antes da benção dos Santos Óleos. Aludindo ao seu aroma, pediu aos presbíteros que a unção recebida no dia da ordenação não os afaste do “cheiro do povo”. Tudo o que não é doado, deteriora e faz mal. A unção não nos foi dada para perfumar a nós mesmos, menos ainda para ser guardada num frasco. Quando isso acontece, o óleo torna-se rançoso e o coração fica amargo.” Quanto mais ungido, melhor o presbítero cumprirá sua missão. O inesquecível amigo Oswaldo Lamartine de Faria chamava-me de “vaqueiro de Jesus Cristo.” Ressaltava: “Você é vaqueiro e nunca o dono do rebanho, o qual é de Deus. Há quem pense erroneamente ser o proprietário da grei. Alguns nem sabem aboiar.” E arrematou: “O povo gosta do Evangelho pregado com unção e piedade. Assim, convém a um pastor.”

O padre não deve ser adorador da lamentação, espalhando o azedume das queixas e a acidez da crítica destrutiva e do pessimismo, denunciando uma alma infeliz e frustrada. Importa ser alegre e otimista, cheio de bom humor, portador da Palavra suave e meiga, pronto para consolar e animar. Que seja cultivador da oração e do estudo, capaz de abrir as portas aos infelizes e desfavorecidos. Estenda os braços com misericórdia para compreender e acolher. O Povo de Deus quer sentir nele uma pessoa desapegada, dócil, simples, disponível para escutar e perdoar, nunca instalada, mas sensível, voltada para o Evangelho e não para os próprios interesses.

O sacerdote deverá ser o homem do Essencial, por isso passível de incompreensões e questionamentos de um mundo em que muitos zombam do Absoluto. Ele é o profeta do Eterno, mesmo que pregue no deserto, qual João Batista. E isto o relaciona profundamente com um aspecto importante do seu ministério: mensageiro da graça divina, através da Palavra e dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia. “Eu te escolhi para exercer o meu sacerdócio, para subir ao meu altar, para fazer a oferenda em favor dos meus filhos” (1Sm 2, 28). Assim declarou Dom Manuel Tavares de Araújo, após ungir as minhas mãos, há sessenta anos. Ao beijá-las, acrescentou: “João, tu és sacerdote para sempre” (Sl 110/109,4).

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