A maioria das pessoas
passa por situações incômodas, inoportunas e inconvenientes. Outrora, o
telefone fixo era o campeão de aborrecimentos. Os tempos mudaram. Hoje, há
muitas vítimas das redes sociais. O toque do celular é constrangedor, fora de
hora e lugar. É aborrecido, quando alguém interrompe uma conversa importante
para atender o telemóvel, como dizem os lusitanos. Com o advento desse aparelho
o encontro presencial passou a ser secundário, o interlocutor fica em segundo
plano e compasso de espera. Não se respeitam os avisos para desligar os
celulares em igrejas, teatros, auditórios, hospitais, clínicas, salas de aulas
etc. Existem sempre os “esquecidos”, transgredindo essa regrinha básica de
convivência social. Faz-nos lembrar o livro de Guilherme Figueiredo “Tratado
Geral dos Chatos”, publicado em 1962 pela Editora Civilização Brasileira.
O autor descreve a
chatice como falta de educação, inconveniência, grosseria etc. Cita vários
tipos de chatos: o etílico, o donjuanesco, o confidencial (que fala ao pé do
ouvido e cospe na cara do interlocutor), o chato-de-galocha e outros tipos: o
pseudo-erudito, puritano-virtuoso, professoral, orador de ocasiões, o
verborrágico ou diarreico de palavras, o que padece com prisão de ventre de
ideias, em suma, uma pletora de chatonildos. Poder-se-ia acrescentar outras
categorias desses personagens. Entretanto, é impossível fazer um levantamento
completo, pois eles se multiplicam numa velocidade estonteante, acompanhando o
avanço tecnológico. Recentemente, apareceram com força o e-chato, o
politicamente correto, o academicamente exato, o fundamentalista religioso etc.
Há os que pregam mudanças (imposições), através de um determinado partido,
considerado por eles o escolhido de Deus. Molestam demasiadamente, quando
pretendem convencer que seu discurso é o científico e ético, o único capaz de
mudar e salvar.
Segundo alguns
psicólogos, a proliferação dos chatos decorre do crescimento da intolerância
entre as pessoas. Relacionam entre tantas causas: o declínio do sentido de
civilidade e o surgimento de novas conquistas técnicas sem a contrapartida de
regras sociais específicas para o seu uso. Uma análise acurada da vida
cotidiana, da organização familiar e social poderia trazer maior clareza sobre
as fontes e causas do aumento do número de chatos e chateados no mundo. Existe
algo que deixa uma pessoa preocupada: a possibilidade de ser igualmente um
chato, mesmo inconsciente ou involuntariamente. Ninguém está imune a tal
defeito, que afeta milhares de seres humanos, contagiando outros tantos.
Assegura-nos o apóstolo Paulo: “Aquele que vos perturba, seja quem for, terá o
merecido castigo” (Gl 5, 10).
Muitos são vítimas de
ligações desagradáveis, aborrecedoras e chatas. São aqueles que insistem em
telefonemas, oferecendo empreendimentos de diversos tipos. Recebem-se chamadas
de instituições filantrópicas, operadoras de telefonia ou televisão a cabo, internet
etc., com planos mirabolantes. Existem os que oferecem túmulos e planos
funerais. Essa é uma realidade inexorável, mas não deverá ser abordada em horas
impróprias. Há quem ofereça, mediante pagamento, o repasse de cadastros de
telefones, endereços, e-mails para mala direta, ao arrepio da Lei nº 13.709/18. Como se
não bastassem, há outros tipos de chatices no whatsApp. Exemplo: as famosas
correntes supersticiosas, deixando os indivíduos constrangidos, caso pensem em
quebrá-las. Os anos eleitorais são pródigos dessas atividades, marcados por uma
enxurrada de cartas, panfletos e telefonemas, gravados por algum artista ou
pelo próprio candidato.
Deverá haver alguma medida jurídica para diminuir tanta coisa que
nos apoquenta. Um amigo encontrou uma maneira de diminuir telefonemas
impertinentes e tediosos. Ao verificar que se trata de chamadas de
“telemarketing” ou “spam”, oferecendo isso e aquilo ou pedindo contribuição
para entidades (cuja idoneidade é duvidosa ou desconhecida), ele emprega os
métodos dos importunadores. Atende à ligação e diz: “Um momentinho, por favor!”
Coloca uma música e deixa o interlocutor esperando. Interrompe duas vezes e diz:
“Não desligue, converso já.” Isso faz com que a chamada tenha uma duração
longa, atrasando a meta prevista de contatos. Não se deve esquecer que chatear
alguém é falta de educação e caridade. O Livro dos Provérbios faz uma
recomendação prática: “Afasta o pé do teu vizinho, para que saturado de ti, não
venha a te detestar” (Pr 25, 17).
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