Padre João
Medeiros Filho
A Semana Santa nos faz relembrar o sofrimento de
Cristo em tantos irmãos nossos, vítimas de injustiça, desprezo, abandono e
engodo político. Em cada Tríduo Pascal, renovam-se o mistério da dor e a
alegria da vitória. O Filho de Deus assumiu a nossa existência em tudo o que
ela contém de esperança e desespero. Sua Morte é a manifestação da fragilidade
de nosso ser e sua Ressurreição, o sinal da dimensão infinita do homem. Nossa
história torna-se presente. Não celebramos apenas fatos do passado, e sim tudo
o que somos. O Verbo Divino encarnou-se, quando se “fez homem e habitou entre
nós” (Jo 1, 14). Sofrendo, Ele
desmascara a estrutura injusta da humanidade. Ressurgindo, proclama a vitória
sobre o pecado, simbolizado na destruição e na angústia humana. A Semana Santa
– memorial da misericórdia divina – revive a resposta suprema de Cristo à
tentação e ao desafio cotidiano do mal.
Jesus provou sua solidariedade incondicional pelo ser
humano. Por isso, deixou-nos o sacramento da Eucaristia: sinal inefável e
permanente da Bondade divina. Jesus não tem somente palavras de conforto. Mas,
entrega sua vida para selar a união do Pai com a humanidade. “Não vos deixarei
órfãos” (Jo 14,18). A presença
diária de Cristo em nossa vida está assegurada pelo Pão Eucarístico, que se
torna nossa força. Ele caminhará ao nosso lado, como outrora fizera com os
discípulos de Emaús. Ao se entregar como nosso alimento, Ele quis mostrar que
tomar a refeição juntos representa partilha e comunhão. Convida-se à mesa quem
se ama e considera. Eis o sentido da atitude do Redentor, que expressa sua
plena doação, vivenciada na Quinta-feira Santa.
Quem ama, serve e se doa. Esta é uma das lições do
Senhor, antes de dar a sua vida pela salvação de todos. Ele revoluciona o
conceito de importância e grandeza. Nobre, grande, importante é quem serve, não
quem é servido. Devemo-nos lembrar constantemente das palavras de Jesus: “Estou
no meio de vós, como quem serve” (Lc 22, 27). Eis o significado maior do
Lava-Pés. Para os cristãos, amar é servir. Na Última Ceia, o Salvador
recomenda: quem ocupa o lugar de honra, deve descer ao nível do ser humano para
mostrar-lhe a sua dignidade. O Senhor ensina através de exemplos. Isto consiste
também em ser Mestre. “Vós me chamais de Mestre e Senhor” (Jo 13,13). O Filho
de Deus inaugura uma nova mentalidade pelo gesto insólito do Lava-Pés.
A Semana Santa é a celebração da total doação divina.
Esta, diante da lógica dos homens, chega a beirar à insanidade. E ninguém pode
duvidar: é a “loucura de Deus” (1Cor 1, 25), traduzida e plenificada na entrega
de seu Filho Único à morte, a fim de que ninguém se perca. A Paixão e a
Ressurreição de Cristo são a prova maior de seu amor por nós. Jesus aceitou
padecer e aniquilar-se na cruz para demonstrar nossa condição, o nada de nosso
ser humano. Mas, Ele ressurgiu para revelar nosso destino e nossa vocação,
sobretudo a magnitude divina que existe em nós. Para os cristãos, a cruz
tornou-se símbolo de conversão e lugar de salvação.
A Ressurreição
significa os anseios de uma vida nova e busca da dimensão verdadeira de nossa
existência. É fruto da clemência de Deus, que tudo recria. Assim é a Páscoa,
também esperança e não apenas memorial. Dá-nos a certeza: Ele ressuscitou e não
morre mais! Ensinou-nos que o amor, nascido do perdão, é mais forte que a
própria morte, pois é Vida. Quem ama, fala muito do amado. É o testemunho. Por
isso somos chamados a proclamar o Ressuscitado. Cabe-nos, pois, levar o Cristo
à humanidade marcada por sinais de opressão e aniquilamento. No primeiro dia da
semana (Jo 20, 1), Maria Madalena foi à procura do corpo do Salvador. Inicia-se
assim a nova criação, nascida da alegria e da vitória. Somos vencedores e não
derrotados, eis a mensagem central da Semana Santa! Feliz Páscoa, marcada pelo
desejo de um Brasil melhor e um mundo sem guerras! “Por que buscais entre os
mortos Aquele que está vivo?” (Lc 24,5).
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