sábado, 26 de outubro de 2024

MEMÓRIA: "COM SAUDADE, RECORDO CAMPANHAS POLÍTICAS"

 



Ney Lopes

Neste domingo, dia de eleição no Brasil.

Permita-se o leitor lembrar alguns momentos da minha vida política e confessar emoções vividas, todas elas com a marca da saudade.

Menino, de “calças curtas”, a minha mania era escapar de casa para assistir comícios.

Lembro os principais candidatos da época: Dinarte Mariz, Aluízio Alves, Djalma Marinho, Aluízio Bezerra, Jessé Freire, Monsenhor Walfredo, Djalma Marinho, Clovis Motta, Teodorico Bezerra, Dix Huit Rosado, Djalma Maranhão.

Trazia do berço uma vocação de servir a coletividade.

Dizia sempre: “um dia serei político”.

De vida simples e modesta, o meu pai desaconselhava.

Entendia ser um sonho impossível, pois essa vocação era para “filho de rico”.

Acreditei no poeta, que afirmava: “Sonho não se discute, se conquista”.

Conquistei!

Candidato

Depois de estudar na Faculdade de Direito do Recife, voltei ao RN em 1966.

Junto com o deputado Odilon Ribeiro Coutinho fui um dos fundadores do MDB, o partido que fazia oposição a Revolução de 1964.

As lideranças principais do estado – Aluízio e Dinarte – eram da ARENA, o partido dos militares.

Aceitei o convite de Odilon e me candidatei a deputado federal, com 21 anos.

A campanha realizou-se em clima de tensão, perseguições e ameaças de prisões.

Numa Kombi, emprestada pelo partido, andei o RN.

Dormia no carro para economizar hotel.

No final, obtive quase 10 mil votos (equivaleria a cerca de 50 mil hoje) distribuídos, sem exceção, em todos os municípios do estado.

Houve eleito na coligação governista com menos de 6 mil votos.

Porém, o quociente eleitoral do MDB não elegeu nenhum deputado.

Atuação parlamentar

Não desisti.

Continuei na política, exercício da advocacia e magistério na UFRN.

Com dificuldades quase insuperáveis de “perseguição sistemática” dos então líderes políticos estaduais, exerci seis mandatos de deputado federal, um de senador suplente, um de vice-prefeito de Natal.

Gratifica o reconhecimento nacional que tive do meu trabalho parlamentar, através de prêmios, medalhas, de órgãos da grande imprensa brasileira, entidades internacionais e países da América Latina, pelo exercício da presidência do PARLATINO.

Cito a seguir algumas dessas homenagens.

Fundador da Assembleia Parlamentar Euro-latino-americana, juntamente com o então presidente do Parlamento Europeu, deputado Joseph Borrel, que atualmente exerce o honroso cargo de ministro das relações exteriores da União Europeia.

A convite da ONU palestra sobre o “O papel das cidades no desenvolvimento e na integração, proferida na CONFERENCIA DO HABITAT I, realizada em Istambul, Turquia.

Palestra nas comemorações do centenário de criação da Duma Estatal, na Rússia sobre a “Importância do trabalho desenvolvido pelos parlamentares regionais, em São Petersburgo –Rússia. 

Saudação a República da China como membro-observador do PARLATINO, recebendo medalha, homenagens e distinções da Assembleia Nacional Popular, em visita oficial à China, em fevereiro de 2006

Honrosamente, fui um dos únicos parlamentares do país incluído em “todas as listas” dos “cem cabeças do Congresso”, no período de 1992 (ano de criação da lista), até 2006, quando exerci o último mandato de deputado federal, com registro na revista VEJA e outros órgãos da grande imprensa.

Dor e decepção

Por fim, não poderia deixar de citar o desencanto que tive ao oferecer a minha experiência parlamentar como candidato, em 2022, ao Senado Federal.

Achei que poderia defender o RN em Brasília.

Procurei quem pensava fosse amigo e correligionário. 

O resultado foi a indiferença, a ingratidão, falsidade e pouquíssimos solidários.

De nada valeram a lealdade e o  trabalho parlamentar eficientes, que executei no Congresso.

A máquina estatal, com vantagens e favores, cooptou todos.

Até quem jamais poderia ser cooptado.

Nunca tive tantas decepções.

Fui obrigado a desistir da candidatura.

Hoje lembro Jorge Amado, que tinha um cemitério particular, no qual enterrava aqueles que para ele deixaram de existir, “morreram: os que um dia tiveram a minha estima e perderam. Os mortos jazem em cova rasa, na promiscuidade da salafrarice, do mau caráter. Para mim o fulano morreu, foi enterrado, faça o que faça já não pode me magoar”.

Finaliza o consagrado escritor: “Encontro na rua um desses fantasmas, paro a conversar, escuto, correspondo às frases, às saudações, aos elogios, aceito o abraço, o beijo fraterno de Judas. “Sigo adiante e o tipo pensa que mais uma vez me enganou, mal sabe ele que está morto e enterrado".


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