Ney Lopes
Já se vão 56 anos.
Lembro como se fosse hoje. No dia de Nossa Senhora da Conceição – 8 de dezembro de 1967 – graduava-se a “Turma da Liberdade”, do curso de Direito da então Faculdade de Direito de Natal, a qual pertenci.
A solenidade realizada do Teatro Alberto Maranhão foi marcada por tensões dos formandos, diante de ameaças do governo militar, que se instalara em março de 1964.
Como orador oficial da “turma” houve tentativa de censura ao meu discurso.
Recusei-me e fui ameaçado de prisão.
No ano de 1967, o regime militar, que começara em 1964 com pseudo caráter transitório, decidiu instalar-se no poder, aumentando o controle do executivo e judiciário.
Para isto, foi encomendado pelo governo um texto centralizador, que resultou na outorga da Constituição de 1967.
Á época, um dos políticos mais injustiçados era o ex-presidente Juscelino Kubitschek, que em 1961, que foi eleito senador por Goiás, com mais de 90 por cento dos votos.
Era apontado pelas pesquisas como o mais forte candidato às eleições presidenciais, previstas para 1965.
Temido pelos militares, diante das chances que tinha de voltar à presidência da República, JK tentou defender-se e lhe foi dito que as acusações do órgão revolucionário eram em absoluto segredo e não se admitia defesa.
Buscou o STF, mas, em tempos de exceção, a não funcionou. Consumou-se a cassação em 1965.
Neste contexto de repetidos atentados a ordem constitucional do país, os concluintes da Faculdade de Direito de Natal resolveram homenagear Juscelino Kubitschek de Oliveira, como o paraninfo da “Turma da Liberdade”.
O Mestre Edgar Barbosa teve o seu nome indicado para Patrono.
Meses depois, com o advento do AI-5, começaria o momento mais duro da Revolução de 1964, que deu poderes de exceção aos governantes para punirem arbitrariamente os que fossem inimigos do regime, ou como tal considerados.
A TURMA DA LIBERDADE
Recordo, com emoção, os meus colegas da Turma da Liberdade: Adelgimar Diniz Rocha, Carlos Borges de Medeiros, Carlos Jussier Trindade dos Santos, (orador na aposição da placa), Deífilo Gurgel, Eudes Bezerra Galvão, Expedito Rufino de Figueiredo, Ferdinando Luis Patriota, Fernando Justino de Souza, Fred Galvão, Glênio Aquino de Andrade, Hamilton de Sá Dantas, Iaris Cortês de Lima, Ieda Amorim Martins, Ilnar Gurgel Rosado, Ismael Wanderley Gomes Filho, Jaymar Medeiros, Jobel Amorim das Virgens, José Aranha Sobrinho, José Jarbas Martins, José Luciano Limeira, Joseri Alves, Manuel Onofre de Souza Junior, Maria das Dores Xavier de Souza, Ney Silveira Dias, Nivaldo de Carvalho, Othon Donaldson de Oliveira, Pedro Simões Neto, Raimundo Nonato Teixeira, Regina Coeli Barbosa, Romeika Lucena, Ruy Barbalho de Meiroz Grilo, Selma Maria Dantas de Paiva, Sônia Ivanise Bandeira do Amaral, Vitória dos Santos Costa (oradora da “aula da saudade”), Waldemir Patriota e Zuleide Teixeira de França.
Post scriptum - No mesmo período revolucionário de graduação da Turma da Liberdade, formou-se em medicina o concetiuado médico e professor conterrâneo Francisco Floripe Ginani. Ele foi o orador de sua turma e durante a solenidade no Teatro Alberto Maranhão o Exército se fez representar no palco do evento com postura desafiadora. Tempos sombrios!
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