Ney Lopes
Hoje, 17 de dezembro, a minha esposa Abigail completa 80 anos.
Lembro o domingo, 12 de agosto de 1962 – dia dos pais -, quando falei pela primeira vez com Abigail, após uma missa, no início da noite, na Igreja de Santo Antonio (prova que o santo é mesmo casamenteiro).
Tímido, veio-me a dúvida, se aquela mocinha queria namorar comigo, um simples estudante, concluinte de ensino médio, começando a vida e repórter de jornal.
Antes, já havíamos trocado alguns olhares, embora não frequentássemos os mesmos ambientes sociais da cidade.
Consultei-a e tive a permissão de acompanhá-la, até a sua residência próxima.
Alinhavei palavras e frases para chegar à pergunta fatal: você tem namorado? Posso voltar amanhã?
A primeira pergunta, não. A segunda, sim.
Audaciosamente, segurei a mão dela e tudo começou.
Já se passaram 61 anos.
Juntos, percorremos caminhos de alegria e de profunda tristeza.
O que importa é que Deus nunca nos faltou.
Na última sexta, antecipando a comemoração do aniversário, Abigail reuniu as suas irmãs Hildete e Maria Lúcia (motivo superior impediu a presença de Socorro), as mulheres familiares e amigas.
Alegrou-se com as presenças e confirmou que “A vida não é nada sem amizade”.
A força e vitalidade que ela transmitiu, ao saudar de improviso as convidadas, contagiou todos ao seu redor.
Era a prova de que a rota percorrida foi repleta de experiências, sabedoria e amor.
Viveu, até hoje. de maneira harmônica e saudável.
No vídeo exibido sobre momentos da sua vida, produzido pelos netos, ao aparecer a imagem do nosso querido filho Ney Júnior, falecido, vieram-lhe lágrimas aos olhos.
Como escreveu o poeta Rudyard Kipling não é possível “esquecer as memórias que foram construídas ao longo do caminho”.
Na Eternidade, Ney Jr festejava a mãe protetora, que nunca lhe faltou com o carinho e bem querer.
Da mesma forma, Karla, Aninha e filhos (Thiago, Rafaela, Carol, Helô e João Manoel) revelavam o complexo e intenso vínculo, que associa todos eles a mãe e a “avó” aniversariante.
Abigail sempre irradiou bondade e, como afirmou o Mestre Cascudo, “sem a garantia prévia da gratidão”.
Em certo momento da comemoração, Abigail foi tomada de grata surpresa.
Chegavam, sem terem avisado, o seu querido irmão Alexandre e Margareth, que vieram de SP, para homenageá-la.
O gesto era a colheita dos valores de unidade familiar, que os seus pais, Dr. Claudionor de Andrade e sua mãe Dona Wancy, impregnaram nos filhos.
Agradeço a contribuição que Abigail dá a minha vida, pelo equilíbrio, fidelidade e dedicação.
Se um momento lembrasse, seria agosto de 1976, quando a maldade, inveja e a ditadura me usurparam um mandato legítimo, que exercia em Brasília.
A força, o apoio, a solidariedade dela, mantiveram-me de pé, graças a Deus.
Segui a inspiração de Paulo Vanzolini: “reconhecer a queda e não desanimar; levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”.
Como disse Cora Coralina, “caminhamos juntos pela vida…”.
A marca dos oitenta anos encoraja a prosseguir com lucidez, após a idade avançar.
Exemplo é o notável arquiteto Frank Gehry.que com 92 anos, acabou de concluir o seu último projeto, um arrojado edifício no centro de Los Angeles.
Recentemente, quando perguntaram em um artigo no jornal The New York Times se ele pensa em se aposentar, respondeu: "E o que eu faria. Eu gosto de viver".
A propósito de Frank Gehry, penso num presente para Abigail, seguindo, como sempre seguimos, o conselho de Marx Twain, de que “É preciso viajar para aprender”.
Viajar é ler um livro, fazendo anotações.
Talvez, no meu aniversário (fevereiro), possa brindar com ela a coragem de termos seguidos nossos sonhos, à resiliência diante dos desafios e à alegria de viver intensamente.
O local seria o pequeno lugarejo (“pueblo”) de Elciego-Rioja, na Espanha, no hotel Marqués de Riscal, cujo projeto por coincidência é do citado arquiteto Frank O. Gehry, pai do Walt Disney Concert Hall e do Museu Guggenheim Bilbao.
Tudo é, ainda, uma hipótese.
Na data de hoje, repito Vinicius de Moraes: “Beijos com amor !!! ”
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