Ney Lopes
O Papa Francisco continua a difícil missão de colocar a Igreja Católica como o caminho final do Reino de Deus na terra, apresentando um Deus misericordioso e reconciliador, para que o mundo se torne melhor e mais pacífico. Enfrenta resistencias e obstáculos de alas conservadoras.
O Pontífice acaba de divulgar o documento “Fiducia Supplicans”, ou “confiança suplicante”. Decisão histórica, que autoriza os padres administrarem bênçãos a casais do mesmo sexo, desde que não façam parte de rituais ou liturgias regulares da Igreja. Algumas interpretações mais superficiais pretendem ver abertura às uniões homossexuais, equiparando-as ao casamento, o que não é verdadeiro. O matrimônio mantem-se como “uma união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos”…
Em outubro, o Papa defendeu a concessão de sacramentos aos divorciados recasados e "em certos casos" também se não cumprirem a "continência" sexual exigida pela Igreja. O jornalista Filipe d’Avillez, especializado em religião, faz a distinção entre a bênção litúrgica da bênção informal. Esclarece que embora as bênçãos litúrgicas impliquem que o fiel esteja em conformidade com a doutrina da Igreja, o mesmo não se aplica às bênçãos informais.
O documento divulgado recorda aqueles que vivem em uniões irregulares. Essas condições não impedem que continuem filho ou filha de Deus. Afinal, a Igreja estará sempre de portas abertas, em vez de uma Igreja que exige de quem entra o estado de graça.
Estes avanços em nada comprometem os dogmas e verdades da Igreja. O Papa Francisco revela a origem da sua formação na ordem dos jesuítas, à qual pertence. Desde o fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola, os jesuítas assumiram posições de vanguarda, cultivando rígida disciplina e vida apostólica ativa. Abertos a ouvir são guiados por uma pastoral próxima das pessoas, com visão de uma Igreja acolhedora dos mais fracos, empenhada na defesa da democracia e na promoção dos direitos humanos.
Por atitudes de firmeza, aliadas a aguçada formação intelectual, os jesuítas foram expulsos do Brasil em 1759, por ordem do Marquês de Pombal, que via na presença deles ameaça ao poder real. Os reis que tinham direitos sobre a Igreja e indicavam os bispos ao papa, acusaram a Companhia de Jesus de ser muito independente, por defender que o rei deveria prestar contas a Deus e também ao povo. Em consequência, o pontífice Clemente 14 dissolveu a congregação, em 1773. O retorno à Igreja Católica ocorreu em 1814, por decisão do Papa Pio VII.
No documento “Fiducia Supplicans”, a Igreja estende o braço de misericórdia na direção de todos, sem ferir os mandamentos de Deus. Francisco é uma figura que a humanidade se orgulha. Os seus dons naturais e serenidade suscitam admiração e deixam marca indelével de pacificador, na Igreja e na sociedade.
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