Lula ajuda peronismo na Argentina, apoiando Sérgio Massa.
Ney Lopes
Sergio Massa, candidato que disputará com Milei o segundo turno presidencial da Argentina em 19 de novembro, é apelidado de “panqueca”, devido as suas mudanças de posições políticas (uma referência à massa de uma panqueca, que deve ser virada durante o preparo).
A sua vida demonstra a prática constante de verdadeiro ilusionismo político, que seria o poder de criar e manipular fatos para alterar a percepção de outros indivíduos.
Senão vejamos.
Massa é um advogado carismático, ex-dirigente do futebol e político que militou tanto pelo peronismo quanto pelo antiperonismo, desde os conturbados anos 1980.
Tem origem italiana.
O seu pai, Alfonso Massa, era natural da Sicília, onde nasceu a Cosa Nostra, que significa "coisa nossa", e é considerada a máfia original baseada em clãs familiares.
Palermo é a cidade da Sicília onde nasceu a Cosa Nostra
A sua esposa Malena Galmarini é presidente da empresa estatal Agua y Saneamientos Argentinos (AySA) e, se seu marido vencer as eleições presidenciais, poderá assumir um papel relevante como primeira-dama da Argentina.
As origens políticas de Massa são conservadoras liberais e ele propõe soluções pró-mercado.
É questionado por ter militado no começo de sua carreira no Sindicato de Centro Democrático, um dos maiores grupos antiperonistas da História.
Entretanto, atualmenrte é apoiado pelo Kirchnerismo, grupo político de esquerda simpatizante do falecido Nestor Kirchner, presidente da Argentina de 2003 a 2007, e de sua esposa, Cristina Fernández de Kirchner, presidente do país de 2007 a 2015.
Foi chefe de gabinete na presidência de Cristina Kirchner, mas depois tornou-se um opositor feroz.
O kirchnerismo lhe atribuía vínculos com setores católicos antiperonistas, com a embaixada dos Estados Unidos e o poder econômico.
Nas eleições presidenciais de 2019, Macri voltou a unir-se a Cristina Kirchner para derrotar o ex-presidente liberal Mauricio Macri nas eleições presidenciais.
É ministro da Economia do atual governo, que levou o país a ter uma inflação de 138%, um dos piores índices do mundo.
No primeiro dia em que Sergio Massa tomou posse no Ministério da Economia da Argentina, disse aos seus colaboradores qual era o seu plano.
Tinha o objetivo de ser o candidato peronista à presidência.
Naquele momento, parecia uma utopia.
Ele transformou o ministério em “comitê” político.
Demitiu vários funcionários e repetia sempre que o seu interesse era acompanhar “a temperatura das ruas”.
Fixou as suas prioridades iniciais nas Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso), a eleição de 22 de outubro e a eleição definitiva.
Indaga-se como um ministro da economia se afirmou candidato com um dólar (paralelo) a 1.100 pesos, uma inflação de 148% ao ano e 40% da população abaixo do limiar da pobreza?
A estratégia de Massa foi clara.
Não se preocupava com déficit público.
Tomava medidas populistas.
Decretou o reembolso de 21% das compras nos supermercados, independentemente se era para um alimento da cesta básica, um eletrodoméstico ou um produto de luxo.
Adiou o aumento das tarifas da energia e dos transportes; decretou um bônus de 20 mil pesos (cerca de R$ 287,36) para os desempregados e outro de 94 mil pesos (cerca de R$ 1350) para os trabalhadores informais; lançou um alívio fiscal para os trabalhadores independentes; um bônus mensal para os reformados; um valor fixo para os trabalhadores do setor privado; reforços no Cartão Alimentação e no programa “Potenciar Trabajo”, além de um novo programa “PreViaje” (voltado para o setor turístico que retorna 50% do valor da viagem em crédito), que pretende transformar numa política de Estado.
Como se isso não bastasse, foram anunciadas diferentes linhas de crédito a taxas bonificadas para reformados, contribuintes individuais e trabalhadores dependentes; um "alívio fiscal" para os contribuintes individuais das categorias A B, C e D; acordos de preços com empresas de grande consumo, empresas de combustíveis e automóveis; e um congelamento de 90 dias das taxas de pré-pagamento, a partir deste mês de outubro.
Massa começou a trabalhar os medos do eleitorado.
Beneficiou aposentados, pensionistas e funcionários públicos, com planos sociais e pensões.
Destacou os riscos da vitória de um neoliberal, que iria cortar todos esses benefícios, por preocupar-se apenas com o lucro das empresas e a adoção de medidas de “arrocho”.
O "aparato" de comunicação funcionou perfeitamente.
Além de tudo isso, Massa previu que a batalha final seria em novembro, sendo essencial seduzir parte do eleitorado.
Para isso, o governo decretou que com o salário desse mês de outubro viesse o novo piso para o imposto de renda.
Assim, agora em outubro deixaram de ter desconto aqueles que têm remunerações entre R$ 10 mil (ou um valor superior, dependendo das deduções por filhos ou por despesas que tenham sido declaradas) e um valor de cerca de R$ 28,7 mil.
A melhoria das remunerações deste segmento de trabalhadores foi imediata.
Várias empresas estão diminuindo sua produção e as dívidas com os fornecedores internacionais atingiram um ponto de não retorno.
A General Motors paralisou a sua fábrica em Rosário.
No momento, a batalha presidencial na Argentina será travada entre dois populistas: um de direita e outro de esquerda.
Sergio Massa ficou perto de ganhar no primeiro turno.
Ganharia com mais 3,3% dos votos.
Teve 36,7% no domingo.
Com esse estilo político, o candidato Sérgio Massa, quando advertido das dificuldades que virão pelo aumento ilimitado dos gastos públicos, responde dizendo:
"O dia seguinte será o dia seguinte. Agora, basta que a missão tenha sido cumprida e ganhemos a eleição".
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