quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Empresários comentam caso de racismo na Zara e apontam medidas que o mercado deve tomar

 


Especialista também aponta onda de ‘’Diversidade para Marketing’’ entre empresas


Após uma denúncia de racismo na loja de departamento Zara, em Fortaleza, um código secreto foi descoberto pela Polícia Civil do Ceará. A orientação do código era para que funcionários ficassem atentos às pessoas negras ou com roupas “simples” dentro do estabelecimento no Shopping Iguatemi.

 A divulgação da perseguição aos clientes, infelizmente comum na rotina de pessoas negras, tornou-se ainda mais alarmante pelo modo sistematizado em que é executada.

 O caso tornou- se um verdadeiro pesadelo para a marca espanhola e pode deixar danos, talvez, irreversíveis para a empresa, principalmente no Brasil, onde tem 56 lojas convencionais e 15 de artigos para casa.

 A empresa divulgou um comunicado em que nega a existência de um código racista para discriminação de clientes e afirmando valorizar a diversidade e o respeito. De acordo com a especialista em relações públicas Valentina Saluz, esta é uma resposta padrão de uma marca, mas que não tira nenhuma responsabilidade do ocorrido: ‘’A responsabilidade da empresa é a falta de investimento para treinamentos de conduta anti racista, falta de investigação em outros casos, afinal em uma busca rápida na internet é possível ver diversos outros casos. Em Outubro de 2019 uma mãe relatou racismo com seu filho de 17 anos na Zara do Ibirapuera. Em Janeiro de 2020, duas mulheres trans, Alina e Jade denunciaram transfobia e racismo trabalhando na Zara. Aliás, em 2020 houveram muitas denúncias, muitas. Por que depois de todas essas denúncias a Zara ainda não trabalha políticas internas? Porque não exigem conduta anti racista de seus colaboradores. Esse tipo de conduta pode quebrar empresas, seja de qual tamanho for, não há mais espaço para racismo'' disse Valentina. 

 Muitas empresas investem em diversidade por questões apenas de publicidade. Para a empresária especialista em gestão de pessoas Maria Claudia Martins, da Imediatta RH, no mercado existe uma falsa perspectiva de diversidade e isso faz com que casos assim sejam cada vez mais escandalizados: ‘’Hoje em dia, muitas empresas investem em puro marketing com a diversidade, mas não incluem essas pessoas na cultura da empresa. É essencial criar um ambiente seguro, de forma física e psicológica para todos, isso são Direitos Humanos. As empresas estão sim fazendo adequações, o mercado está caminhando para um novo momento em relação à inclusão, mas ainda está muito lento. Eu como uma mulher negra, com descendência indígena, me questiono até quando vamos esperar? Essas questões precisam se tornar ações entre os líderes urgentemente. Isso é comprovadamente eficaz para as empresas, influencia na produtividade e acima de tudo é lei. Mas ainda existe preconceito e discriminação sim e enquanto as empresas não acelerem verdadeiramente este processo, de forma interna e não apenas na publicidade, escândalos como este podem se tornar cada vez mais recorrentes, pois a população não mais perdoará discriminação’’ aponta a empresária e psicóloga com pós graduação em Psicologia Cognitiva Comportamental, MBA em Gestão estratégica de pessoas e 25 anos de experiência em recursos humanos. 

 Para o empresário Bruno Bueno, CEO da Ozora Soluções de tecnologia, como homem negro e líder, essas situações que acabam manchando nomes de empresas tão renomadas é uma resistência de gerações passadas em se adaptarem ao mundo atual, onde a diversidade é uma urgência: ‘’Eu já passei por diversas situações parecidas e quis usar isso como aprendizado, por isso hoje invisto em criar um ambiente saudável na minha empresa e é justamente isso que falta nessas empresas que frequentemente são ligadas a casos de racismo. São empresas geralmente dirigidas por pessoas extremamente conservadoras e que resistem ao novo momento em que quem promove a segregação da população e a discriminação vai sofrer consequências sociais e correr o risco de ter a reputação manchada para sempre. Talvez algumas empresas internacionais não tenham conhecimento suficiente de como isso funciona no Brasil, mas elas precisam enxergar urgentemente isso, ou perderão cada vez mais prestígio e valor de mercado’’, disse o empresário. 

 Ainda sobre a Zara, Entidades do movimento negro ingressaram na Justiça do Ceará contra a rede de lojas Zara, pedindo R$ 40 milhões de indenização por dano moral coletivo de acordo com informações do Uol.



Contatos da assessoria

Tel: +55 11 991695008

Email: contact@nexxtcommunications.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário