sexta-feira, 21 de novembro de 2025

O clero e o parlamento potiguar

 

Padre João Medeiros Filho

A Assembleia Legislativa do RN promoverá uma Roda de Conversas sobre o tema, que intitula este artigo. O debate ocorrerá no dia 28 de novembro de 2025, na sede do Memorial da Assembleia Legislativa. Foram convidados: deputado Vivaldo Costa, decano dos parlamentares, professor Augusto Carlos Viveiros, secretário-geral da Assembleia Legislativa, jornalista Vicente Serejo, representando a imprensa, padre João Medeiros Filho, como membro do clero. Mediará os debates o jornalista Aluísio de Lacerda, chefe da Divisão do Memorial do Legislativo. Como convidado de honra estará o arcebispo metropolitano Dom João Santos Cardoso. Na ocasião serão lançados os livros “O clero no legislativo potiguar” e a segunda edição de “Uma História da Assembleia Legislativa do RN”, de Luís da Câmara Cascudo.

Em 2005, o autor deste artigo publicou “O clero norte-rio-grandense e sua militância política de 1817 a 1999”, uma coedição da Editora Letra Capital (RJ) e da extinta Faculdade de Teologia de Caicó.  Nele o autor registra setenta membros do clero (que nasceram no RN ou aqui exerceram o ministério presbiteral), detentores de mandatos legislativos e executivos: vereador, prefeito ou intendente, deputado provincial (estadual) ou geral (federal), senador (do Império ou da República), vice-governador e governador do estado. Há um fato notável: o Seridó potiguar e a cidade do Assú (incluindo o distrito de Campo Grande, à época) tiveram um papel relevante na vida clerical e política. Dos quarenta e dois padres deputados, durante o Império, vinte e um pertenciam ao Seridó e ao município de Assú. Nas regiões referidas, o engajamento clerical na política é maior do que o do presbitério da capital. Convém destacar a influência de padre Luiz Pimenta de Sant’Ana, pároco da Antiga Vila da Princesa (Assú). Este foi educador de Francisco de Brito Guerra (futuro padre e senador), o qual fundou uma Escola de Latim (e humanidades), quando pároco na Vila do Príncipe (Caicó). Padre Pimenta influenciou igualmente a juventude de Campo Grande, distrito de Assú que ali acorria em busca do saber e da assistência espiritual.

Segundo vários pesquisadores, o clero do RN possui relevância na participação política, ocupando os primeiros lugares entre as unidades federadas e dioceses brasileiras. A filiação partidária dos sacerdotes é bem diversificada. Diferentes causas levaram o clero ao engajamento político-partidário: baixíssima escolaridade da população, eleitorado exclusivamente masculino, problemas sociais e assistenciais, luta pela independência política no período colonial, desejo republicano na época imperial e busca de verdadeiras políticas públicas na vigência da República.

O Seminário de Olinda exerceu papel preponderante na formação teológica e na consciência política dos presbíteros norte-rio-grandenses. Aquela casa clerical, além de ser um celeiro eclesiástico, tornou-se uma verdadeira Arcádia do seu tempo. No Seminário funcionava concomitantemente a Academia de Ciências, nos moldes daquela de Lisboa. Dentre os presbíteros que exerceram mandatos políticos, como deputados, trinta e seis estudaram na instituição fundada por Dom Azeredo Coutinho, em 1800. Integrando o renomado corpo docente da entidade, está nosso conterrâneo padre Miguelinho (ex-frei Miguel de São Bonifácio), que proferiu o discurso de abertura daquela Casa, a convite do bispo Azeredo Coutinho, seu amigo desde os tempos de estudante na Universidade de Coimbra. Anos depois, frei Miguelinho tornou-se líder da Revolução de 1817, a qual chegou a contar com dezenove (dentre os trinta e um) sacerdotes que atuavam no Rio Grande do Norte.

O que resultou para a nossa terra do compromisso político dos padres potiguares? A história registra muitos feitos, ressaltando-se a indexação de parte do Seridó ao RN, numa luta obstinada do padre Guerra. Portanto, o século XIX representa um marco de desenvolvimento e expansão territorial do RN.  Vale enumerar a criação de municípios e paróquias, fundação de escolas, orfanatos, casas para idosos, cemitérios e outras benfeitorias. Tudo foi conquista da Igreja para o povo, que deveria ser realizado pelo poder público. No período republicano verifica-se uma preocupação acentuada com o exercício da cidadania, surgindo sindicalismo rural, escolas radiofônicas para alfabetização e educação básica, esforços por uma vida digna, lutando pelo direito à água numa região árida e outras conquistas. O Movimento de Natal, uma forma não partidária de fazer Política, foi precioso para nossa história. Pode-se afirmar dos clérigos políticos: pensaram no povo e não enriqueceram em seus mandatos. Viveram o Evangelho: “Eu vim para servir e não ser servido” (Mt 20,28).

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