Padre João Medeiros Filho
A Assembleia Legislativa do RN promoverá uma Roda de
Conversas sobre o tema, que intitula este artigo. O debate ocorrerá no dia 28
de novembro de 2025, na sede do Memorial da Assembleia Legislativa. Foram
convidados: deputado Vivaldo Costa, decano dos parlamentares, professor Augusto
Carlos Viveiros, secretário-geral da Assembleia Legislativa, jornalista Vicente
Serejo, representando a imprensa, padre João Medeiros Filho, como membro do
clero. Mediará os debates o jornalista Aluísio de Lacerda, chefe da Divisão do
Memorial do Legislativo. Como convidado de honra estará o arcebispo metropolitano
Dom João Santos Cardoso. Na ocasião serão lançados os livros “O clero no legislativo
potiguar” e a segunda edição de “Uma História da Assembleia Legislativa do RN”,
de Luís da Câmara Cascudo.
Em 2005, o autor deste artigo publicou “O clero
norte-rio-grandense e sua militância política de 1817 a 1999”, uma coedição da
Editora Letra Capital (RJ) e da extinta Faculdade de Teologia de Caicó. Nele o autor registra setenta membros do clero
(que nasceram no RN ou aqui exerceram o ministério presbiteral), detentores de
mandatos legislativos e executivos: vereador, prefeito ou intendente, deputado
provincial (estadual) ou geral (federal), senador (do Império ou da República),
vice-governador e governador do estado. Há um fato notável: o Seridó potiguar e
a cidade do Assú (incluindo o distrito de Campo Grande, à época) tiveram um
papel relevante na vida clerical e política. Dos quarenta e dois padres
deputados, durante o Império, vinte e um pertenciam ao Seridó e ao município de
Assú. Nas regiões referidas, o engajamento clerical na política é maior do que o do presbitério da capital. Convém destacar a influência de padre Luiz
Pimenta de Sant’Ana, pároco da Antiga Vila da Princesa (Assú). Este foi
educador de Francisco de Brito Guerra (futuro padre e senador), o qual fundou
uma Escola de Latim (e humanidades), quando pároco na Vila do
Príncipe (Caicó). Padre Pimenta influenciou igualmente a juventude de Campo Grande, distrito de Assú que ali acorria em busca
do saber e da assistência espiritual.
Segundo vários pesquisadores, o clero do RN possui relevância
na participação política, ocupando os primeiros lugares entre as unidades federadas
e dioceses brasileiras. A filiação partidária dos sacerdotes é bem
diversificada. Diferentes causas levaram o clero ao engajamento político-partidário:
baixíssima escolaridade da população, eleitorado exclusivamente masculino,
problemas sociais e assistenciais, luta pela independência política no período
colonial, desejo republicano na época imperial e busca de verdadeiras políticas
públicas na vigência da República.
O Seminário de Olinda exerceu papel preponderante na
formação teológica e na consciência política dos presbíteros
norte-rio-grandenses. Aquela casa clerical, além de ser um celeiro eclesiástico,
tornou-se uma verdadeira Arcádia do seu tempo. No Seminário funcionava concomitantemente
a Academia de Ciências, nos moldes daquela de Lisboa. Dentre os presbíteros que
exerceram mandatos políticos, como deputados, trinta e seis estudaram na
instituição fundada por Dom Azeredo Coutinho, em 1800. Integrando o renomado
corpo docente da entidade, está nosso conterrâneo padre Miguelinho (ex-frei
Miguel de São Bonifácio), que proferiu o discurso de abertura daquela Casa, a
convite do bispo Azeredo Coutinho, seu amigo desde os tempos de estudante na
Universidade de Coimbra. Anos depois, frei Miguelinho tornou-se líder da
Revolução de 1817, a qual chegou a contar com dezenove (dentre os trinta e um) sacerdotes
que atuavam no Rio Grande do Norte.
O que resultou para a nossa terra do compromisso político
dos padres potiguares? A história registra muitos feitos, ressaltando-se a
indexação de parte do Seridó ao RN, numa luta obstinada do padre Guerra.
Portanto, o século XIX representa um marco de desenvolvimento e expansão
territorial do RN. Vale enumerar a criação
de municípios e paróquias, fundação de escolas, orfanatos, casas para idosos,
cemitérios e outras benfeitorias. Tudo foi conquista da
Igreja para o povo, que deveria ser realizado pelo poder público. No período
republicano verifica-se uma preocupação acentuada com o exercício da cidadania,
surgindo sindicalismo rural, escolas radiofônicas para alfabetização e educação
básica, esforços por uma vida digna, lutando pelo direito à água numa região
árida e outras conquistas. O Movimento de Natal, uma forma não partidária de
fazer Política, foi precioso para nossa história. Pode-se afirmar dos clérigos
políticos: pensaram no povo e não enriqueceram em seus mandatos. Viveram o Evangelho: “Eu vim para servir e não ser servido” (Mt
20,28).

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