Padre João
Medeiros Filho
No próximo domingo, dia 30/11, terá início o ano litúrgico
com o tempo do Advento. Este perdurará até a véspera do Natal. Celebrá-lo é
viver espiritualmente o mistério da Encarnação do Filho de Deus. Este período
concentra-se na figura de Maria Santíssima. Ela concretizou a vinda de Cristo
ao mundo. “O Verbo de Deus se fez
carne e quis morar conosco” (Jo 1, 14). Isto é um sinal de ternura e amor
do Pai, que se inclinou até nós para nos elevar e partilhar conosco a sua infinitude.
A Encarnação é Deus humanado em Cristo e o homem Nele divinizado. O fato mais
significativo da celebração desse tempo
litúrgico é se conscientizar sobre a valorização do ser humano (em Jesus) e sua
elevação ao mais elevado grau. A criatura une-se definitivamente a quem a
gerou, formando uma única pessoa. É algo inédito: o Absoluto para vir ao mundo,
usa a corporeidade humana.
A Encarnação de Cristo encerra,
no plano da salvação, um acontecimento marcado de mistério e encantamento. O autor
da criação quis sentir a vida das criaturas e ser uma delas. Por outro lado, o
homem nunca estivera tão unido ao seu Criador. Nesse sentido, Maria Santíssima
torna-se lugar e sacramento do encontro de Deus com o ser humano. Ela é Advento
em duplo sentido: a vinda do Pai para perto de seus filhos e a aproximação destes
ao Altíssimo. O filósofo francês Jacques Maritain reiterava que “todos os mistérios divinos são inéditos, mas
o mais impressionante é a Encarnação: Deus decidir conviver com os homens, fazer-se um deles,
partilhando as suas dores e angústias, tristezas e esperanças.”
O Divino quis morar conosco.
Cristo se encarna, descartando todas as convenções e a rotina do seu tempo. Maria
recebe o dom da maternidade de forma insólita aos olhos do mundo. Jesus nasceu
de modo singular. Deus está acima das etiquetas e normas humanas. Infelizmente,
diante da beleza e poesia do mistério divino, o homem não foi capaz de perceber a magnitude desse
momento. Sua reação é de
rejeição, pois Cristo nasceu na manjedoura de um estábulo, sob o jugo de
Herodes.
Desse tempo litúrgico fica uma
grande lição. Cristo só vem, quando nos despojamos (seguindo o exemplo de Maria
e José), decidimos aceitar o desconhecido e nos guiar pela mão divina. O
Salvador da humanidade dispensou todo o aparato, poder e luxo para nascer. Necessitava
apenas de corações livres. É exatamente isto o que Ele deseja encontrar para
continuar, de forma mística, a sua vinda e presença entre nós. Deste modo,
escreveu sabiamente São Francisco de Assis: “Somos suas mães,
na medida em que com amor, consciência pura e sincera O trazemos em nosso
coração e O damos à luz por obras santas que sirvam de luminoso exemplo aos
outros.”
Deus anuncia uma nova esperança
para o povo. Com Cristo, o homem não viverá mais sozinho. Poderá encontrar o “Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,
6). A partir do nascimento do Filho de Deus, há quem escute o ser humano, o
ilumine, sobretudo o compreenda e o ame gratuitamente. Viver o Advento, além de
ser convite e oportunidade à conversão pessoal ou comunitária, deve ser para os
cristãos uma prática profética, em que estejam conscientes de tudo o que os
impede de sentir a manifestação de Cristo, como: indiferença, ódio, injustiça, desrespeito
à pessoa humana etc.
É preciso que esse tempo seja a
grande profecia contra a miséria, fome, solidão, tristeza, falta de ética, abandono,
egoísmo e radicalismo. Tudo isso deixa o ser humano escravo de si mesmo, sem
poder levantar a cabeça para vislumbrar o Senhor da Vida e da História. Ele se encarnou
para libertar os oprimidos. O Advento é o anúncio da esperança, a véspera do
sorriso e da alegria. É a noite dos sonhos da felicidade e da eterna bondade,
que não se afastarão mais do coração do homem. É, sim, o despertar para a
claridade divina! “Rorate coeli
desuper et nubes pluant iustum” (Is 45, 8), ou seja, “Orvalhai, ó céus, do Alto e as nuvens chovam
a justiça.”
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