Padre João
Medeiros Filho
A pátria tem um papel relevante em nossas vidas com suas tradições e
histórias. O ser humano é visceralmente ligado a seu berço. Apesar da
globalização, o interesse pelas nossas raízes aumenta cada vez mais. Os estudiosos
de genealogia afirmam que, nesta última década, o desejo de conhecimento dos
ancestrais multiplicou. A nação incorpora-se à dignidade da pessoa. Nela
nossos antepassados deixaram a sua marca. Ali cresceram, construíram sua
trajetória e legaram-nos valores. Tal realidade impulsiona-nos a amar a pátria.
Aí também se inclui a preocupação com os imigrantes. Todos nós somos
estrangeiros, enquanto caminhamos para o destino definitivo. “Somos peregrinos e forasteiros, mas em breve,
estaremos em nossa casa”, afirma o apóstolo Pedro (1Pd 1, 1).
O amor por nossa pátria e a responsabilidade pelo bem comum exigem de
nós empenho na construção de uma sociedade mais justa. O povo da Antiga Aliança
mostrava gratidão pela terra de seus pais. Várias passagens
veterotestamentárias demonstram a predileção dos hebreus pelas suas origens. O
Novo Testamento descreve o carinho de Cristo por sua gente, a tristeza e
lágrimas, ante o fim iminente de Jerusalém.
Amar a pátria significa
nutrir carinho pelo torrão onde nascemos, crescemos, estudamos, constituímos
família e do qual tiramos nossa subsistência. Implica no compromisso de lutar
pela defesa dos interesses e bem-estar de todos. Requer combate à exploração e cuidados
para que os governos sejam dignos, honestos e eficientes. Importa alertar
contra omissões, privilégios, desrespeito e improbidades, em desfavor da
sociedade. O zelo pela pátria, além de
denunciar abusos, erros e desvios, implica numa contribuição consciente e
eficaz para a construção de boa prática política. Esta deverá ser firmada em
valores éticos de promoção e defesa da vida, com atitudes construtivas e não populistas
ou demagógicas.
Não raro, em muitas decisões há certa confusão entre nação e governos.
Santo Tomás de Aquino afirmou: “Assim como é para a religião a adoração a Deus,
deve ser a reverência à pátria e à família. É preciso prestar um culto de
gratidão à terra que nos acolheu.” O Catecismo da Igreja Católica inclui o
patriotismo entre as virtudes. “O amor e o serviço ao país estão na ordem da
caridade.” (Nº 2.239). Mas, eles não devem ser desprovidos de uma reflexão
crítica. É preciso preocupar-se com o futuro da nação sem esquecer os carentes,
excluídos e invisíveis.
A situação atual do Brasil é bastante complexa. O esgarçamento do tecido
social e político, o radicalismo e a polarização, os bolsões de pobreza, a
carência dos serviços básicos e a expansão do crime organizado demonstram o quanto
ainda temos a percorrer. Pessoas doentes, famintas e inseguras necessitam e
merecem tratamento adequado, justiça e condições dignas. O país requer urgentes
mudanças estruturais. Os governantes não podem esquecer deveres primordiais de
proporcionar trabalho, educação, saúde e segurança aos cidadãos. O empenho por
uma nação socialmente justa não deve ser apenas missão de idealistas. A
participação política não se reduz ao simples voto nos pleitos eleitorais,
embora seja fundamental. O cidadão, mormente o cristão, não pode deixar de manter
vigilância sobre o agir dos políticos e homens públicos. Importa verificar se
agem realmente em prol do bem-estar da sociedade. Acontece que muitos defendem
apenas os próprios interesses ou as ideologias de seus partidos, consequentemente
traindo a nação.
Neste Sete de Setembro, rezemos para que o povo brasileiro se
conscientize de sua ingente responsabilidade social. Urge cobrar constantemente
dos governantes o compromisso com a vida em todos os sentidos e fases. Mister
se faz defender a dignidade humana, superar o assistencialismo e as medidas
paliativas. É indispensável criar condições favoráveis para um ensino de
qualidade, trabalho digno para todos, habitação, saúde e segurança. É isso que precisamos
desejar para o Brasil neste 203º aniversário de sua independência. Olhemos para
o passado, sonhando com um futuro melhor. Em
seguida, comprometamo-nos com atitudes concretas, visando a uma nação equânime
e fraternal. Queira Deus seja este o objetivo precípuo de todos os agentes
públicos. Com muita fé, supliquemos ao
Senhor, repetindo a prece, após a bênção do Santíssimo Sacramento: “Dai
ao povo brasileiro, paz constante e prosperidade completa.”
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