Texto do jornalista Sérgio Faria, sobre a mudança anunciada pelo supermercado Nordestão que tira trabalhadores do mercado…
O triste fim da pracinha de alimentação mais antiga de Natal
Clóvis ainda lembra: era um sábado. 15 de julho de 1987. Tinha 14 anos.
Cedinho, ele e a mãe, saíram da casa onde moram em Pirangi , para assumir um posto no calçada do mais novo supermercado da cidade: o Nordestão de Capim Macio.
A comida, ainda fresquinha, tinha ficado pronta de madrugada: bolos de macaxeira e batata-doce, cuscuz, pamonha e canjica. “ até hoje é assim. Todo mundo em casa,mulher, meu filho , ajudam na produção”.
Clovis e a mãe não tiveram que aguentar o desconforto da calçada por muito tempo. “ um dia o dono do supermercado me chamou e disse pra gente se mudar pro corredor, ao abrigo do sol. Ficamos la até construírem a pracinha.” E desde então é lá que ele dá expediente. Chega às 8h e vai embora lá pelas 19h30.
Viviane não tem ajudantes. Toca sozinha a tapiocaria rebatizada “Tapioca da Vivi” há pouco mais de um ano.
“Eu trabalhei aqui por 8 anos. A antiga dona me demitiu e me passou o ponto como parte do acordo de rescisão”. Era o que ela queria. “quem não sonha ter o próprio negócio?”
Vivi é casada e tem uma filha adolescente.
Em 30 de dezembro, ela e Clóvis receberam a notificação: o grupo dono do terreno onde fica o supermercado, dava 30 dias pra que eles desocupassem a área. “não falaram nada pra gente, não tivemos como nos preparar”.
A antiga pracinha de alimentação vai fazer parte de um novo espaço de lojas.
“Perguntei se não podia ocupar uma”.
A resposta foi não: as novas lojas são destinadas apenas a artigos de decoração. Tanto Viviane quanto Clovis pagam uma taxa (pouco mais de mil reais de aluguel).
“A gente tá há tanto tempo aqui, achei injusto”, reclama Clovis. “Podiam ter dado uma alternativa, oferecer outro ponto”.
Agora é hora de pensar num plano B.
“Vou abrir um serviço de entregas, entrar em contato com padarias da região, ver se eles compram meus produtos”.
Mas pondera: “aqui é lugar de passagem, muito movimento, tenho clientes de mais de 30 anos. Com quantas padarias vou ter que fechar negócio pra tirar os 300 reais que ganho aqui num dia de trabalho?”.
Viviane pensa em alugar uma sala numa galeria que fica por trás do supermercado. Mas tá meio reticente.
“O aluguel custa mais de 2 mil reais (ele tira pouco mais de 3 mil reais com as vendas). E não sei se os clientes daqui vão querer ir até lá pra comer minhas tapiocas”.
A pracinha de alimentação em
supermercados surgiu como um conceito inovador nos anos de 1990. As pessoas não iriam mais apenas repor a despensa. Tinham também a opção de fazer uma parada pro lanche, tomar um cafezinho, levar comida pronta pra casa. Socializar com os amigos.
E foi assim durante mais de 15 anos. As compras continuam. A convivência, em tempos tão necessitados, nem tanto.
FONTE: thaisagalvao.com.br
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