quinta-feira, 25 de novembro de 2021

OPINIÃO: “GOL CONTRA” AFASTA LULA DO “CENTRO”

 


Ney Lopes

Na política nacional, o presidente Bolsonaro tem criado sucessivos problemas para si próprio, através da declaração de frases inconvenientes e inoportunas.

O ex-presidente Lula agora fez a mesma coisa, numa prova de que as posições extremadas convergem, embora sejam opostas.

Em entrevista ao “El País” o ex-presidente indagou que “por que a Ângela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega, não? Por que (o ex-presidente da Espanha) Felipe González, aqui, pôde ficar 14 anos? Qual é a lógica? Por que Margaret Thatcher pode ficar 12 anos no poder, e Chávez não? ”, disse o petista.

Até alas do próprio PT chocaram-se com as afirmações de Lula. 

A exemplo de outras ocasiões referendou publicamente modelos políticos de governos autoritários em Cuba, Nicarágua e Venezuela.

Cabe observar que não se tratam de relações meramente diplomáticas e comerciais, o que são normais no mundo.

No caso, um pretendente a chefia do estado brasileiro, compara e iguala sistema políticos totalmente antagônicos, ou sejam, ditaduras e regimes democráticos.

O princípio da autodeterminação se aplica para o povo definir a soberania nacional, com a preservação plena da liberdade.

Isso não ocorre nos países elogiados por Lula.

Daniel Ortega, ditador da Nicarágua, prendeu 7 candidatos à presidência e foi “eleito” presidente.

Interferiu diversas vezes na Constituição nicaraguense para garantir a sua permanência no poder, enquanto Merkel, Felipe González e Margaret Thatcher foram eleitos democraticamente.

Em 2018, o governo do ex-guerrilheiro Ortega chegou a promulgar a Lei de Defesa dos Direitos dos Povos à Independência, que define que pessoas que participaram de protestos contra o ditador fossem proibidas de se candidatar.

Com essas medidas para burlar regras do sistema democrático, Daniel Ortega, 76, foi reeleito presidente no início do mês para um mandato de mais cinco anos de duração.

Obteve 75% dos votos válidos.

Entretanto, não teve adversários, pois meses antes do pleito, prendeu indiscriminadamente opositores.

A reeleição de Ortega não foi reconhecida por diversos países da América Latina, tampouco pelos Estados Unidos e União Europeia.

O PT chegou a emitir nota parabenizando o "feito" do líder da Nicarágua, classificado pela sigla como “uma grande manifestação popular e democrática”.

A nota, posteriormente, foi apagada.

As declarações de Lula  surpreenderam os próprios repórteres do jornal, que exclamaram: “Merkel, Thatcher e González não prenderam seus opositores. ”, referindo-se à comparação feita pelo ex-presidente.

Sem condições de explicar a sua posição política, Lula tergiversou e acusou a polícia de bater em muita gente e condenou os embargos econômicos dos Estados Unidos à Cuba.

Mais uma vez, os próprios repórteres do El País contestaram Lula, dizendo: "presidente Lula, é possível fazer as duas coisas: condenar o bloqueio e pedir liberdade nas ruas para os opositores”.

Os jornalistas reforçaram, que Merkel governa há um determinado tempo, mas, neste período, nunca chegou a colocar qualquer um de seus opositores na cadeia, como o líder nicaraguense.

Profundamente lamentável a posição assumida pelo ex-presidente Lula, na Espanha.

Não é o caso de acusá-lo de ser ou não comunista.

Assim agir seria nutrir o radicalismo patológico e doentio, que grupos fanáticos propagam no país, com posições de ultradireita.

Lula, de forma infeliz, agradou a sua militância fiel e ideológica.

Como destacou a mídia nacional correu o risco de suscitar a repulsa dos demais eleitores, inclusive simpatizantes.

Em sentido contrário, é o que faz Bolsonaro, assumindo posições extremadas, unicamente para alimentar o segmento de intolerantes, que o acompanha.

Por justiça, deve ficar claro, que tanto no lulismo, quanto no bolsonarismo, há  pessoas de boa fé, que não acolhem teses sectarias.

O saldo da entrevista do líder petista ao El País é que ele “pisou na bola” e “fez gol contra”, o que dificultará seu objetivo de aproximar-se de posições políticas moderadas, na luta  eleitoral de 2022.

Aliás, esse distanciamento de Lula do "centro", na hipótese de não "vingar" uma terceira via, poderá ter um único beneficiado, que seria Bolsonaro, com a sua reeleição facilitada.

Para que isso ocorra, o presidente precisaria, desde já, "fechar" a boca e "falar pouco".

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