segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Crise da Evergrande revela ofensiva regulatória de Xi Jinping para novo mandato com base em agenda social

 

Em 2022, expansão do PIB chinês deve ficar abaixo de 5%; país investe em mudanças qualitativas, como freio na especulação do setor imobiliário e em fontes de energia não-poluentes

A crise da Evergrande, a segunda maior incorporadora imobiliária da China que acumula uma dívida de $304 bilhões, quase 2% do PIB chinês, é resultado imediato da ofensiva regulatória do governo. A estratégia consiste na tentativa de redução do grau de endividamento do setor de construção civil e de seu peso na composição do PIB chinês, avaliaram especialistas que participaram de evento realizado pelo CEBRI em parceria com o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), nesta terça-feira (05/10).


As agendas de reforma na China revelam uma ambição de Xi Jinping de se manter no poder, pontuou o ex-embaixador na China e membro do Conselho Consultivo Internacional do CEBRI, Marcos Caramuru. “Apesar de haver uma relutância em implementar reformas mais profundas, há uma relação direta entre a agenda de mudanças e a ideia de que a missão de Xi Jinping à frente do governo chinês ainda não foi concluída”, disse. Caramuru participou do debate, que também contou com a presença do Embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, Presidente do CEBC e Vice-Presidente Emérito do CEBRI, e de Cláudia Trevisan, Diretora Executiva do Conselho Empresarial Brasil-China. 


Para Fabiana D’Atri, economista do Bradesco e diretora de economia do CEBC, as mudanças no modelo de crescimento que diminuem a alavancagem do setor imobiliário vão ao encontro da agenda social do governo chinês. “A prosperidade comum que tem sido evocada pelos líderes chineses é uma forma de fortalecer o mercado consumidor chinês e reduzir as desigualdades”, frisou. O enfrentamento de riscos sistêmicos, segundo D´Atri, é justamente um dos pilares do processo de transformação do modelo de desenvolvimento do país. Mudanças ligadas à tecnologia, meio ambiente, questões sociais e geopolíticas apontam para um novo horizonte de prioridades para a China. 


“As medidas de reforma são direcionadas para mudanças qualitativas, não quantitativas. É um processo que passa necessariamente por um menor ritmo de crescimento e esse é o desafio. Abre-se mão de vetores como a produção de energia com fontes poluentes e a redução da participação do setor imobiliário, mas ainda não há alternativas prontas para um novo cenário”, frisou a economista, que prevê que o PIB chinês em 2022 fique abaixo de 5%. 


Imóveis em Xangai podem chegar a $20 mil por metro quadrado


Na semana passada, o China Banking Regulatory Commission (CBRC) e o Banco Popular da China pediram um alívio nas restrições ao setor imobiliário. Apesar disso, o governo continua enfático sobre os objetivos do segmento. Para o governo de Xi Jinping, o setor deve se concentrar em oferecer moradia e não em especulação. O segmento imobiliário tem um papel importante na economia das famílias chinesas, que tem 75% das suas riquezas vinculadas à aquisição de imóveis.  


O ex-gerente do Banco do Brasil em Xangai, Sergio Quadros, destacou o crescimento do valor de compra de imóveis no país. “O preço dos imóveis aumentou demais, principalmente a partir de 2019. O preço do metro quadrado para a classe média chinesa em Xangai estaria em torno de US$20 mil, valor mais elevado que em cidades como Londres”, destacou Quadros. 


Setor financeiro pode facilitar diálogo com os Estados Unidos 


Para Caramuru, o desafio do governo em trazer respostas para os dilemas estruturais do país está lado a lado com a necessidade de retomada do diálogo econômico com os Estados Unidos. A tomada de decisão por alas mais conservadores e ideológicas do governo chinês acaba gerando impactos negativos. A interlocução traz benefícios para ambos os países e para o mundo, que terá de lidar menos com abalos na economia da gigante asiática. 


“Já há sinais de retoma da interlocução entre China e Estados Unidos e se isso acontecer teremos uma perspectiva de maior previsibilidade na realidade chinesa. O setor financeiro pode cumprir um papel determinante no estreitamento da relação entre os países, já que há um interesse extraordinário na China e só ele tem o poder de forçar o governo norte-americano a retomar o diálogo econômico”, defendeu Caramuru. 


O evento está disponível na íntegra no canal do CEBC no Youtube e pode ser acessado aqui


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