quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Boicote de Sally Rooney a editora israelense é contraproducente

 


Cientista político contesta as justificativas da autora em não vender a tradução de seu mais novo livro, “Belo mundo, onde você está”, para empresa de Israel e aponta viés antissionista da decisão

Sally Rooney, escritora irlandesa famosa pela obra best-seller “Pessoas Normais”, divulgou na terça-feira (12) que não permitirá a publicação de seu mais novo livro pela editora israelense que publicou seus lançamentos anteriores em hebraico. A justificativa da autora foi que essa era uma forma de expressar seu apoio ao povo palestino e ao movimento Boicote, Desinvestimento, Sanções (BDS), que se apresenta como tendo o objetivo de trabalhar “para acabar com o apoio internacional à opressão dos palestinos de Israel e pressionar Israel a respeitar o direito internacional". 


Em sua declaração, Rooney cita o relatório da ONG Human Rights Watch (HRW), que associa as ações do governo de Israel à realização de um apartheid como um dos motivos que a fez tomar essa decisão. Sobre isso, André Lajst – cientista político, diretor executivo da StandWithUs Brasil e especialista em questões do Oriente Médio com foco no processo de paz palestino-israelense – lembra que a HRW tem um histórico de preconceito contra Israel, e que essa posição enviesada é um “costume da organização no Oriente Médio, que persegue Israel enquanto poupa países que atropelam diariamente os direitos humanos, com ditaduras e guerras".


Lajst explica que, embora a HRW seja destaque por defender os valores humanitários em diversas partes do mundo, em Israel e nos territórios sob controle da Autoridade Nacional Palestina seu posicionamento enviesado é nítido. Parte disso pode se dever à sua liderança local. Por exemplo, um de seus pesquisadores é Osmar Shakir, membro ativo do BDS, e seu conselheiro é Shawan Jabarin, também apoiador do BDS, além de recrutador e instrutor condenado pelos Estados Unidos por seu trabalho na Frente Popular para a Libertação da Palestina, organização que não reconhece o estado de Israel e que é considerada um grupo terrorista pelos EUA, Japão, Canadá, União Europeia e Israel.


Ele também lembra que o próprio alto oficial do Congresso e ex-ministro da Defesa sul-africano, Mesoia Lekota, afirmou: “tentei encontrar uma comparação entre a forma como vivíamos sob o regime do apartheid e a situação em Israel e não consegui encontrar uma sequer”. Além da comparação entre Israel e a África do Sul sob o regime de exceção, o especialista acredita que as demais alegações da autora irlandesa não justificam o boicote promovido por ela a todo um público que gostaria de ter acesso a suas obras em sua língua nativa.


“Ela não leva vantagem nenhuma com esse posicionamento. Deixar de vender a tradução de seu livro para a editora de Israel apenas demonstra suas crenças antissionistas e a coloca em uma posição delicada com seus leitores israelenses”, analisa Lajst. Quem compartilha da mesma opinião é a agente literária responsável pela publicação de autores internacionais em Israel, Deborah Harris: em entrevista ao jornal The New York Times, ela chamou a atitude de Sally Rooney de contraproducente, já que seu público no país também é composto por pessoas que apoiam a Autoridade Palestina. Segundo Harris, "o que a literatura deve fazer é alcançar o coração e as mentes das pessoas".

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Laura Alegre

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