Em 1974 Geraldo era um simpático funcionário da Manutenção na fábrica da General Motors em São José dos Campos, SP.
Rapaz habilidoso,
dedicava-se de corpo e alma à sua especialização e trabalhava em horas extras quase
todos os dias para prover um bom conforto à sua bonita e jovem esposa. Seu
profissionalismo era exemplar.
Oriundo da mesma
cidade mineira – Camanducaia, quase na divisa com o estado de São Paulo – o
colega Vicente, também conhecido como “Mineirinho”, tornou-se um grande amigo
de Geraldo, e, solteiro que era, em vários finais de semana quando as gurias
espertas tinham outros compromissos, desfrutava de um bom churrasco, um
chopinho, torresmo, pão de queijo e muita conversa sem proveito junto ao amigo
em sua casa. E assim, com esses trens todos, a vida seguia em paz, uai.
São José dos Campos, SP
Vários meses depois
Geraldo teve uma excelente oportunidade de trabalho na usina nuclear de Angra
dos Reis em Resende, RJ – era a fase de “milagre econômico” brasileiro, época
em que Dilma Rousseff era apenas uma guerrilheira fajuta que só pensava na
mandioca e, brilhante pensadora que era, teve aí suas primeiras ideias sobre a
tecnologia de estocar vento.
E para Resende lá se
foi o nosso personagem.
Nos dois a três primeiros
meses a esposa ficaria em São José para acertar a venda da casa e nesse período,
por razões práticas, Geraldo enviava quinzenalmente o dinheiro para sua amável
esposa através de seu amigo Mineirinho, com recomendações para que se
certificasse de que nada estaria faltando à sua jovem consorte.
Acontece que faltava,
sim, se vosmecê me entende.
E assim o atencioso
Mineirinho atendeu de forma cabal, com admirável competência e maestria, as
necessidades explícitas e implícitas da gentil esposa de seu ex-colega.
Claro, não tardou para
que o excesso de cuidados do amigo chegasse aos seus ouvidos.
Em uma inesperada
sexta-feira um furibundo Geraldo, utilizando o crachá de um outro colega para
entrar, irrompeu na fábrica armado com uma broca de meia polegada de diâmetro e
doze de comprimento, afiada de acordo com os padrões da ABNT e da Anvisa,
buscando seu desafeto com a fúria do cangaceiro Christino
Gomes da Silva Cleto, o Corisco do bando de Lampião, para eletrocutá-lo
com dita broca, ideia certamente não muito simpática ao Mineirinho que, avisado
por colegas, disparou fábrica adentro buscando um canto qualquer para se
esconder.
No aperreio da hora, já
com as tripas descontroladamente alardeando sua participação no episódio, não
achou nada melhor que uma área na seção de pintura que tinha pouca iluminação, onde
vários tambores vazios de tinta estavam estocados. Não titubeou: abriu a tampa
do primeiro e, sem pensar, pulou lá dentro.
Deu merda!
Era um dos poucos
tambores que tinham tinta dentro. Verde.
A turma do “deixa
disso, todo mundo leva um chifre de vez em quando, arranja outra mulher”,
segurou o Geraldo enquanto outros correram para tirar o Mineirinho, agora pintado
de verde, do tambor de tinta. Além do prejuízo material, teve que arcar com as
despesas médicas para tirar a tinta do corpo e limpar a ambulância das manchas verdes,
despesas essas não honradas pelo convênio de saúde.
O Mineirinho não
voltou mais ao trabalho na G.M., por razões que fogem à minha compreensão.
Ignoro também como
ficou o relacionamento do jovem casal após esse lamentável incidente.
POR MAGNOVALDO SANTOS
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